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Além do Ponto Final

Além do Ponto Final

Dom | 30.08.20

Girl, Woman, Other, de Bernardine Evaristo

Já andava de olho neste livro há algum tempo e numa das minhas visitas à Fnac, encontrei-o em promoção e com uma capa muito mais bonita que a que conhecia e acabei por o comprar. Subiu logo para número 1 nos livros que mais queria ler em agosto e admito que até li mais rápido o anterior só para poder começar este. Quando o acabei, fiquei sem saber o que tinha achado e tive de me oferecer uns dias para refletir sobre ele antes de conseguir emitir uma opinião. Cheguei à conclusão de que todos os prémios e burburinhos criados à volta deste livro são mais que merecidos.

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Girl, Woman, Other está dividido em 4 capítulos, onde cada um deles nos traz a história de 3 mulheres britânicas e, na sua maioria, negras. Ficamos então a conhecer 12 mulheres, todas elas com vivências bastante diferentes, mas cujas vidas se entrelaçam de uma forma engenhosamente bem construída. Em cada personagem que conhecemos, são-nos também apresentadas pessoas na sua vida, às quais não prestamos muita atenção, até nos encontrarmos com a descrição da vida delas uns capítulos depois. A primeira mulher com que nos deparamos é Amma, mulher negra e lésbica que criou o seu teatro independente e, ao fim de vários anos, vê uma peça sua no National Theater. A seguir conhecemos Yaz, filha de Amma (através de inseminação artificial com Ronald, professor e homossexual) e universitária, que se depara com todo um novo mundo de descoberta. Por fim, conhecemos Dominique, melhor amiga de Amma, que partiu para os Estados Unidos para viver com o seu grande amor, que acaba por evoluir para uma relação tóxica.

Bibi fired off, of course feminism isn't about manhating! it's about women's liberation, equal rights and freedom from limiting expactations, you need to think for yourself instead of parroting the patriarchy, time to grow up, Megan! 

Bernardine Evaristo traz-nos uma descrição da vida britânica menos conhecida. Conhecemos mulheres imigrantes de vários países africanos e percebemos todos os obstáculos pelos quais passaram quando chegaram a Inglaterra, ou pelos quais continuam a passar. Percebemos os preconceitos que viveram e histórias surpreendentes de superação, conhecemos famílias do mais ao menos tradicional possível. Além disso, é incrível a forma como esta obra está escrita e construída. As personagens secundárias de um capítulo passam a ser as principais de outros e isso faz com que percebamos a razão das suas atitudes, por mais absurdas que nos parecessem inicialmente.

É um livro que aborda diversos temas muito discutidos hoje em dia, tais como racismo, homossexualidade, identidade sexual, feminismo, violação, relações amorosas, entre muitos outros. Tem a capacidade de nos fazer pensar sobre o funcionamento da sociedade, sobre o que levou à sua evolução até aos dias de hoje, sobre como somos influenciados pelo ambiente em que crescemos, sobre tanta coisa…

I let her know she's an apologist for the patriarchy and complicit in a system that oppresses all woman
She says human beings are complex
I tell her not to patronize me

Sem dúvida que aconselho este livro a qualquer pessoa. Aviso já que a escrita da autora é diferente e que pode ser difícil entrar no ritmo, mas sem dúvida que vale a pena o esforço. É uma obra de ficção que quase podia não ser, porque aborda temas nada ficcionais. Dou comigo a pensar várias vezes em personagens ou situações descritas no livro e acho que não senti que me fazia pensar tanto quando o li, mas agora que o tempo vai passando, percebo a forma como me impactou. Resumindo e concluindo, aconselho totalmente este livro e esta leitura 🤗

Quem já leu, o que tem a dizer? Ficaram rendidos como eu?

                          

Avaliação: 8,5/10

Dom | 23.08.20

Call Me By Your Name, de André Aciman

Apesar de normalmente ler os livros antes de ver o filme, com Call Me By Your Name acabei por fazer ao contrário. Vi o filme e, cerca de meio ano depois, ganhei coragem para ler o livro. Digo “coragem” porque me lembro de, na altura em que vi o filme, ficar a remoer toda a história por vários dias e saber que o livro me ia tocar ainda mais.

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A narrativa passa-se na Riviera italiana, nos anos 80, e é contada por Élio, filho de um professor universitário que todos os anos recebe um aluno seu durante o verão. A premissa do livro é muito simples: Élio apaixona-se por Oliver, o aluno que os pais recebem nesse verão. O que acaba por fazer o livro a obra de arte que é, na minha opinião, é o facto de Élio ser um adolescente de 17 anos, que se está a conhecer e perceber com quem se identifica e o facto de o livro ser contado por ele acaba por acrescentar muito à leitura. Sentimos que estamos constantemente a viver o conflito interior desta personagem, que, inicialmente, não consegue perceber o que sente em relação a Oliver, nem em relação à sua própria identidade sexual.

We rip out so much of ourselves to be cured of things faster than we should that we go bankrupt by the age of thirty and have less to offer each time we start with someone new. But to feel nothing so as not to feel anything - what a waste!

Acima de tudo é um livro que conta uma história de amor muito bonita. Para Élio representa o primeiro amor e a descoberta da vida sexual e para Oliver um amor intenso, que sabe que é errado, mas ao qual não consegue resistir. Podia ser um típico livro sobre um amor homossexual impossível (especialmente nos anos 80), mas não é. É um livro sobre duas pessoas que se amam verdadeiramente, sobre um amor puro, intenso e curto. Além disso, é um livro bastante sexy e, de certa forma, erótico, sem que haja propriamente uma descrição muito pormenorizada desses acontecimentos. É acima de tudo, uma narrativa onde se sente uma tensão sexual entre Élio e Oliver desde o primeiro momento.

Em comparação com o filme, acrescenta imenso à história porque, sendo Élio o narrador, conseguimos sentir os mesmos sentimentos que ele e perceber exatamente como é que lida internamente com a descoberta pessoal em que se encontra. Assim, aconselho o livro a quem nunca tenha visto o filme e também a quem já viu, porque acaba por conhecer um novo lado dos acontecimentos. Apesar disso, acho que o filme está bastante fiel ao livro e que continua a retratar bem o amor entre Élio e Oliver.

He came. He left. Nothing else had changed. I had not changed. The world hadn't changed. Yet nothing would be the same. All that remains is dreammaking and strange remembrance.

Resta-me dizer que esta foi das opiniões mais difíceis de escrever porque este livro me tocou de uma forma difícil de explicar. Fiquei dias e dias a matutar na história, apesar de ter lido o livro em 3 dias, e chorei baba e ranho quando acabei porque é uma história lindíssima, com um final triste, mas igualmente bonito. Foi um livro que me fez sentir vazia quando o acabei e se isso não é sinal de que uma história mexeu connosco, então não sei o que é.

                             

Avaliação: 10/10

Qua | 19.08.20

O Amor nos Tempos de Cólera, de Gabriel García Márquez

Ofereceram-me este livro nos anos e, como estava muito curiosa para conhecer, finalmente, Gabriel García Márquez, decidi que ia ser a minha primeira leitura do mês de agosto. Admito que estava muito entusiasmada, pessoas próximas já tinham lido e, por isso, tinha as expectativas um pouco altas. A verdade é que esperava algum realismo mágico, tão conhecido traço da escrita deste autor, e não o encontrei, antes pelo contrário. Apesar de saber que, provavelmente, acabo por ter uma unpopular opinion não gostei muito de O Amor em Tempos de Cólera e vou ter que esperar uns tempos antes de voltar a pegar em García Márquez.

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O livro traz-nos a história de Florentino Ariza, um jovem telégrafo romântico que se apaixona à primeira vista por Fermina Daza, uma rapariga de uma beleza inabalável. Florentino apaixona-se por Fermina quando vai entregar uma carta ao seu pai, e, a partir daí, começa numa tarefa infinita de a conquistar. Trocam cartas por uns anos, enquanto são adolescentes, mas Fermina nunca chega a apaixonar-se por Florentino e, mais tarde, acaba por casar-se com Urbino Juvenal, um jovem médico conceituado da cidade, com quem fica casada por vários anos. O livro começa com a morte do Doutor Juvenal e percebemos que Florentino Ariza esperou “cinquenta anos, nove meses e 4 dias” para conquistar Fermina. Ao longo do livro, vamos percebendo que este amor por Fermina sempre foi o que moveu a vida de Florentino, que passou por doenças e subiu na vida por querer dar uma vida boa a esta mulher.

Era ainda demasiado jovem para saber que a memória do coração elimina as más recordações e exalta as boas e que, graças a esse artifício, conseguimos suportar o passado

Somos levados nesta história de amor por parte de Florentino, enquanto viajamos pela América Latina do final do século XIX e conhecemos o impacto da cólera nestes países. É um livro que nos fala sobre amor: amor nas relações conjugais (e extraconjugais), amor quando se é mais velho, amor na viuvez, amor doentio, entre outros. Temos ainda, a descrição de alguns comportamentos reprováveis por parte de homens em relação a mulheres que talvez fossem normais na altura da narrativa, mas que atualmente, não seriam aceitáveis, ou relatos de pedofilia e prostituição. Suponho que, neste livro, a ausência de realismo mágico deu lugar ao realismo como forma de crítica social à realidade latino-americana dessa época.

O problema da vida pública é aprender a dominar o terror ; o problema da vida conjugal é aprender a dominar o tédio

Achei o livro bastante parado e não gostei propriamente da história em si. Sei que é uma opinião que a maioria das pessoas não partilha, mas dei por mim a ter dúvidas se o amor de Florentino por Fermina era realmente amor ou se era apenas uma obsessão. Florentino segue Fermina em todas as aparições públicas com o marido e vive toda a vida à espera da morte Doutor Juvenal, para poder, finalmente, conquistá-la. Não chega a ter uma relação estável ao longo de toda a vida, porque não quer ser “infiel” a Fermina e, inclusivamente, trata as mulheres com que se relaciona de uma forma indigna. Fiquei na dúvida se estava perante uma história de amor bonita ou perante um amor doentio e preocupante.

Dito isto, concluo que foi um livro que não gostei por aí além, mas sei que a maioria das pessoas adora García Márquez. Alguns livros dão para umas pessoas e não dão para outras, suponho que tenha sido o caso. Alguém que já tenha lido algo deste autor que me diga se partilhou da mesma opinião ou se os outros livros são melhores?

                         

Avaliação: 6/10

Sex | 14.08.20

Normal People, de Sally Rooney

Depois de alguns meses a ouvir falar imenso deste livro e de ver a opinião da Rita da Nova no blog dela, decidi dar uma oportunidade a Normal People. Já o li há um mês ou dois, mas como a série chegou, finalmente, a Portugal (na plataforma de streaming HBO), achei que era uma boa altura para publicar algo sobre o livro.

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O livro traz-nos a história de Marianne e Connell, que desenvolvem entre eles uma relação de amizade e amor. Connell, apesar de viver com limitações financeiras, é popular e bem visto na escola. Já Marianne, vive de forma abastada, mas é ignorada no secundário e até tem colegas que dizem que tem problemas mentais. A mãe de Connell é empregada na casa de Marianne e os dois acabam por passar muito tempo juntos, até se apaixonarem e manterem uma relação em segredo até ao final do secundário.

Marianne had the sense that her real life was happening somewhere very far away, happening without her, and she didn't know if she would ever find out where it was or become part of it.

Quando os dois entram em Trinity College, em Dublin, os papéis invertem-se: Marianne passa a ser a rapariga popular e Connell tem dificuldades em estabelecer amizades. É na faculdade que a história de amor dos dois começa a ver adversidades e o livro mostra-nos o crescimento de ambas as personagens, enquanto percebem que nunca conseguem passar muito tempo um sem o outro. Traz-nos uma relação incrivelmente realista e cheia de altos e baixos entre duas pessoas que se amam, mas que não têm a comunicação como seu forte.

Generally I find men are a lot more concerned with limiting the freedoms of women than exercising personal freedom for themselves.

Desengane-se quem acha que é um livro apenas sobre duas pessoas apaixonadas, porque não é. É um livro que retrata muito bem a complexidade das relações humanas, as dúvidas por que todos passamos na adolescência e início da vida adulta, quando tentamos perceber quem somos e com quem nos identificamos. É uma história que aborda alguns temas importantes atualmente, já que Marianne tem muito baixa autoestima e Connell tem uma necessidade incrível de aceitação e alguns problemas de ansiedade. É uma obra literária que nos dá uma visão realista sobre estes assuntos e Sally Rooney, a autora, é capaz de criar uma verdadeira empatia pelas personagens. Passamos ainda, levemente, por temas como sadomasoquismo, violência doméstica e questões de classes sociais.

Apesar de, à primeira vista, Normal People parecer um livro mais teen e sem grande trama, acaba por se revelar uma história complexa entre dois seres humanos peculiares, mas com problemas de pessoas normais, que tentam perceber a sua identidade perto um do outro. Ao longo da história vamos percebendo que há uma clara evolução no perfil das personagens e ficamos completamente ligados a elas. É uma leitura que aborda temas importantes, mas de uma forma leve e fluída. O romance é escrito por uma autora assumidamente marxista e isso acaba por ser visível na forma como é retratada a sociedade: uma sociedade de classes, onde as personagens agem e são condicionadas pela sua condição socioeconómica, realçando o impacto destas diferenças no seu quotidiano. Apercebi-me mais tarde desta dimensão mais política da história e acabei por ficar com vontade de reler o livro e ter a oportunidade de refletir com maior profundidade sobre a história nesta perspetiva.

It was culture as class performance, literature fetishised for its ability to take educated people on false emotional journeys, so that they might afterwards feel superior to the uneducated people whose emotional journeys they liked to read about

Acho que tinha as expectativas muito altas e acabei por não me apaixonar completamente pelo livro, mas não deixa de ser uma história que vale muito a pena ler e que aconselho a 100%. Agora estou super curiosa com a série, que até já ouvi dizer que é melhor que o livro. Quem já leu o livro e viu a série, o que tem a dizer?

Nota: para os mais curiosos sobre a parte mais política deste livro, deixo aqui o link de um artigo que fala sobre a política socialista no livro e outro com uma pequena entrevista à Sally Rooney

Artigo: https://tribunemag.co.uk/2020/05/the-socialist-politics-of-sally-rooneys-normal-people

Entrevista: https://vimeo.com/319463872

                             

Avaliação: 8/10

 

Seg | 10.08.20

Irmãs de Sangue, de Barbara e Stephanie Keating

Tinha este livro na minha lista Reading list há mais de um ano, mas andava sempre a adiar começar a lê-lo. Não era um livro que me cativasse, sendo que só o li por insistência de um familiar que dizia que era muito bom e que me pôs as expectativas muito altas. Talvez por isso, tenha terminado o livro com um sentimento de ligeira desilusão.

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A narrativa começa no Quénia em 1957 e conta-nos a história de três crianças, de diferentes origens: Sarah Mackay, irlandesa, Hannah van der Beer, africânder, e Camilla Broughton, britânica. As três fazem um pacto de sangue, onde juram que estarão sempre presentes na vida umas das outras, independentemente do que a vida lhes reserve. Após este pacto, a narrativa avança 5 anos, quando Sarah parte para a Irlanda para estudar, Camilla vai para Londres, onde acaba por se tornar modelo e Hannah fica no Quénia, onde tenta manter a fazenda que a sua família africânder ergueu no início do século, Langani. É com esta separação que a amizade das três jovens é posta à prova.

Um dia destes vais decobrirque afinal és humana como nós. Que tens que comunicar, senão começas a murchar como uma planta sem água.

Irmãs de Sangue é uma história sobre amizade, mas não só. É uma história que nos dá a conhecer os períodos conturbados que vários países africanos viveram naquela altura, onde haviam conflitos tribais e discriminação racial. Apesar de parecer um simples livro sobre a amizade de 3 raparigas, dá-nos também um panorama geral do que aconteceu no Quénia, um país que tinha conquistado recentemente a sua independência e que ainda não sabia como lidar com todas as adversidades associadas. Vemos os dois lados da história, o da população local e da população que, apesar de ter sido colonizadora, se sentia como verdadeira cidadã queniana. Para além de todo este cenário político, é ainda feita uma descrição incrivelmente vívida de paisagens naturais, de safaris e de diversas espécies animais, tudo através de personagens capazes de nos transmitir o seu amor por este país.

A fúria é a arma que as pessoas usam para combatter a dor. Mas traz problemas se a deixarem fermentar demasiado tempo.

Todos nós temos esse impulso para mudar as pessoas à imagem da nossa ideia de quem devem ser

Depois desta descrição devem estar a pensar: “Então mas ela não tinha dito que não tinha gostado do livro?”. A verdade é que, de certa forma, gostei da história e da cultura que me trouxe. No entanto, senti que demorei imenso a entrar no livro e a sentir-me ligada às personagens. Acho que só a partir de mais de meio é que comecei a gostar realmente, apesar de sentir que algumas partes eram exageradas, como por exemplo toda a história de amor entre Sarah e Piet (irmão da Hannah). Apesar disso, dei por mim várias vezes a sofrer com as personagens ou a ficar feliz por elas, por isso acredito que estivesse mais embrenhada no livro do que realmente achava.

Concluo que foi um livro que gostei e que me prendeu bastante a partir do meio e, por isso, recomendo. É uma história ótima para nos dar a conhecer mais sobre o continente africano naquela altura, coisa que normalmente não temos oportunidade. Este é o primeiro livro da trilogia Langani e agora dou por mim bastante indecisa sobre se devo, ou não, continuar a ler. Alguém que já tenha lido e me possa recomendar? 😅

                 

Avaliação: 6,5/10

Qua | 05.08.20

O Jogo do Anjo, Carlos Ruiz Zafón

Decidi ler o livro O Jogo do Anjo, de Carlos Ruiz Zafón, depois de saber a triste notícia de que este incrível autor nos tinha abandonado. Já tinha lido A Sombra do Vento, quando era muito mais nova e tinha gostado tanto que se tornou um dos meus livros favoritos de sempre. Sem dúvida que é um livro ao qual, eventualmente, vou ter de voltar, mas decidi prestar a minha homenagem lendo o segundo livro da saga do Cemitério dos Livros Esquecidos, O Jogo do Anjo.

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Apesar de ser posterior a A Sombra do Vento, passa-se antes da narrativa do primeiro livro, levando-nos a uma Barcelona dos anos 20, onde conhecemos a personagem principal, David Martín, um jovem jornalista que pretende seguir uma carreira de escritor. Após fazer sucesso a escrever pequenas histórias no jornal, acaba por arranjar uma editora e ver os seus livros publicados.

Cada livro tem uma alma, a alma de quem o tinha escrito e a alma de quem o tinha lido e sonhado com ele.

Depois de uns anos a escrever e publicar livros, David conhece um misterioso editor francês, Andreas Corelli (uma personagem parecida com o diabo), que lhe faz uma oferta de trabalho igualmente misteriosa. David acaba por aceitar a proposta de Corelli, mas percebe que a recompensa associada ao trabalho pedido não se sobrepõe às implicações que este lhe traz. É nesta fase que o escritor começa a investigar o mundo à volta do seu estranho editor e começa a perceber que acabou por entrar numa trama enigmática e perigosa.

A justiça é uma questão de perspectiva, não um valor universal.

No fundo, é um livro bastante estimulante, onde somos levados a um ambiente de fantasia, cheio de twists e imprevistos, que acabam por nos levar a um final inesperado e com várias interpretações possíveis. Não senti a magia que me lembro de sentir ao ler A Sombra do Vento, embora isso possa ser influenciado pela fase da vida em que li o livro. Também pode ser causado por uma evolução da escrita do autor, que acaba por criar uma história muito mais adulta e sombria que a que conhecemos anteriormente.

Continuam-me a faltar os outros dois livros desta saga, O Prisioneiro do Céu e O Labirinto dos Espíritos, mas não tenho dúvidas que voltarei aos livros deste autor, que nos leva sempre para um ambiente mágico e cheio de mistérios. O Jogo do Anjo acaba por introduzir algumas das personagens principais do livro A Sombra do Vento, entre elas o Sr. Sempere e o seu filho, que têm um lugar central no resto da saga.

Para quem nunca leu Carlos Ruiz Zafón, aconselho a 100% começarem pelo livro A Sombra do Vento, que apaixona qualquer um e tem a capacidade de nos apaixonar ainda mais pela leitura e pelos livros, mesmo aquelas pessoas que, por norma, não gostam assim tanto de ler.

No geral, acho que tinha as expectativas muito altas, devido à experiência passada com o primeiro livro da saga e, talvez por isso, não tenha gostado tanto este livro. É impossível desligarmo-nos do volume anterior e isso acaba por fazer com que estejamos numa comparação constante, que pode ser bastante injusta. De qualquer das formas, continua a ser um excelente livro e recomendo muito a sua leitura.

Quem já leu Carlos Ruiz Zafón, qual é o vosso livro favorito?

          

Avaliação: 7/10