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Além do Ponto Final

Além do Ponto Final

Dom | 27.09.20

Ao Teu Lado, de Ana Ribeiro

Este livro é um livro português, de uma autora menos conhecida e que me foi cedido pela própria. Foi o primeiro livro que li nestes moldes, onde nos é cedido o exemplar para que leiamos e divulguemos a nossa opinião sobre ele. Antes de dizer o que quer que seja sobre o livro ou a história, quero agradecer muito à Ana Ribeiro por me ter cedido a versão ebook do livro Ao Teu Lado e por toda a simpatia que me demonstrou no processo de leitura e pós-leitura.

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A história dá-nos a conhecer Ana e Miguel, duas crianças muito diferentes que se conhecem no Alentejo, numas férias de verão. Ana vive em Lisboa e todos os anos visita a adorada quinta dos avós numa terra do Alentejo e Miguel vive lá com os pais, que passam por muitas dificuldades financeiras. Estas duas crianças desenvolvem uma bonita relação de amizade durante esse verão e Miguel acaba por ir viver com Ana e os seus pais para Lisboa, para que consiga ir para a escola. Ao longo da narrativa a amizade que une Ana e Miguel vai evoluindo para algo mais, estas personagens começam a namorar e vamos embalados o resto do livro na bonita história de amor que os une.

Tenho imensas coisas positivas a apontar a este livro. Adorei as descrições espaciais que foram feitas ao longo da história, quer do Alentejo, quer dos Picos da Europa. Admito que fiquei com vontade de conhecer qualquer um dos sítios falados já que a escrita é feita de forma apaixonada. Também achei muito interessante e bonita a ideia que a autora quer passar sobre amizade, sobre a importância de estarmos lá para os nossos e de fazermos tudo o que está ao nosso alcance pelas pessoas que amamos. Além disso, acho que a história de amor entre Miguel e Ana é tão bonita e pura que é impossível não nos rendermos um pouco a ela.

Mesmo no amor, ninguém é de ninguém; temos uma ligação muito forte e intensa com a pessoa de quem gostamos ou amamos, mas nunca, jamais, devemos ser propriedade dessa mesma pessoa.

No entanto, infelizmente, também tenho alguns aspetos menos positivos a apontar, que fizeram com que esta leitura não me preenchesse. Primeiro que tudo, devo dizer que este tipo de romance, em que o casal é quase o único tema do livro, não é dos meus favoritos. Talvez por isso, tenha achado a história um pouco clichê demais para o meu gosto pessoal. Além disso, acho que houve uma repetição de ideias constante relativamente aos sentimentos das personagens uma pela outra. A acrescentar a isto, achei que certos acontecimentos importantes eram descritos de forma demasiado apressada (o final especialmente), quando havia outras partes muito menos cruciais que podiam ter sido cortadas ou diminuídas. Achei que as personagens estavam construídas de forma demasiado perfeita, parecendo que não tinham defeito nenhum, coisa que não existe na vida real. Por último, achei que, por vezes, a construção gramatical das frases dificultava um pouco a compreensão das ideias.

Parece que somos cada vez mais parecidos, nas entrelinhas das nossas diferenças.

Em conclusão, não foi um livro que me tenha convencido. Não acho que seja um mau livro para pessoas que gostam de romances, mas, para mim, foi uma história demasiado romantizada e clichê. Acho que é normal: não podemos gostar de todos os livros e não vejo isso como uma coisa negativa. Claro que isto é apenas a minha opinião, que é subjetiva, aliás, o livro tem uma boa classificação no Goodreads. Apesar de tudo isto, acredito que escrever um livro, criar uma história bonita como a da Ana e do Miguel e ter a coragem de a publicar é um feito, por isso acho que a Ana tem muito por que se orgulhar.

               

Avaliação: 4,5/10

Ter | 22.09.20

Ensina-me a Voar Sobre os Telhados, de João Tordo

O primeiro livro comprado na Feira do Livro de Lisboa deste ano que decidi ler foi Ensina-me a Voar Sobre os Telhados, de João Tordo. A razão? Muito simples: foi o livro mais pesado que comprei e queria aproveitar a minha última semana de férias para o ler, para não ter de andar muito carregada quando as aulas começassem 😂

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Este livro desenvolve-se entre o Japão e Portugal e tem um espaço temporal de cerca de 100 anos. Em Portugal, conhecemos o narrador da história, que trabalha no Liceu Camões, tem um filho surdo e é um alcoólico em recuperação. Quando o professor Tavares, que dava aulas de Geografia, se suicida, cria uma reunião semanal, que tem como objetivo ajudar todos os que trabalham no liceu a recuperar do choque. Numa dessas reuniões, aparece Henrique Tsukuda, um japonês misterioso, que vai despertar um fascínio doentio no nosso narrador. Intercalados com os capítulos passados em Portugal, temos outros onde vamos conhecendo várias gerações de uma família japonesa, que, mais à frente na história, acaba por se relacionar com a história passada em Portugal.

Esta passagem constante entre passado e presente, Japão e Portugal, acaba por tornar a leitura um pouco confusa, na minha opinião. Além disso, focando-nos em dois cenários muito distintos, acabamos por nos deparar com inúmeras personagens, o que torna o livro de uma enorme complexidade (que já ouvi dizer que é uma característica deste autor).

Nascer não é, afinal, produto do livre-arbítrio, mas de uma outra liberdade, biológica ou celestial, como lhe queiram chamar, a liberdade mais arrogante de todas porque é promotora de escravidão, obrigando-nos a estar aqui, encurralados. Em suma: não tivemos escolha neste "estar"

A verdade é que não gostei muito do livro. Não digo que seja uma má leitura, talvez não seja, simplesmente, uma leitura para mim. O que senti ao longo da história, foi que continuava a ler sempre à espera que acontecesse alguma coisa, que, de repente, surgisse uma situação mais surpreendente ou mais “mexida”. Tudo para terminar o livro e perceber que essa situação não tinha chegado. A acrescentar a isto, achei a história triste, houve sempre uma melancolia e tristeza presentes em todas as personagens e isso, não sendo necessariamente uma coisa má, acabou por também me deixar desmotivada na leitura. Acho que, no geral, achei a história monótona.

Mais uma vez, não acho que seja um mau livro, acho que é mesmo uma questão de gosto pessoal. Senti que não havia propriamente um fio condutor da narrativa e isso, para mim, é meio caminho andado para me perder na leitura e não me sentir ligada à história. No entanto, devo dizer que adorei a escrita do autor, achei muito fluída e cativante, apesar do ambiente triste à volta do livro, já para não falar que está recheada de passagens lindíssimas.

O dilema não é não sabermos, é não saber que sabemos, e portanto esse conhecimento tem de ser arrancado de dentro de nós com um saca rolhas existencial

O medo impede-nos de acreditar naquilo que o medo nos diz que é impossível

No geral, acho que foi uma leitura rica em cultura, mas que não me cativou completamente. Vou voltar aos livros do autor, sem dúvida, e tentar perceber se tive apenas um começo menos bom, ou se é um estilo de escrita com o qual não me identifico tanto. Quem já leu este autor, o que tem a dizer? Qual o livro que recomendam?

                           

Avaliação: 6,5/10

Qui | 17.09.20

A Man Called Ove, Fredik Backman

Comecei a ler este livro sem expectativas nenhumas. Comprei-o no Book Depository, numa compra um pouco impulsiva, simplesmente porque estava barato e tinha curiosidade de ler algo do autor. Posso dizer, sem hesitar, que foi das minhas melhores leituras de 2020 e que espero ter muito mais oportunidades de ler livros de Fredik Backman, um autor sueco que tem conquistado corações literários em todo o mundo.

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O livro traz-nos a história de Ove, um velhote rezingão, muito habituado à rotina e que gosta que todas as regras sejam cumpridas. Todos os dias sai no seu check up matinal, para ver se está tudo bem no bairro onde vive, ou se alguém infringiu alguma regra e detesta quando a sua rotina é alterada, seja por que motivo for. Quando o conhecemos, Ove tem um objetivo bem definido na sua vida (que não vou contar, para não estar a avançar demasiado sobre a história), mas parece que o universo está empenhado para que este velhote não o consiga cumprir. Acaba por ser nessas situações que se dão alguns dos momentos mais engraçados do livro.

He was a man of black and white. And she was color. All the color he had

À medida que vamos avançando na história, percebemos que, no fundo, Ove é uma pessoa bondosa e amável e que, toda a sua personalidade atual é condicionada por acontecimentos passados na sua vida. Ove é como é porque ergueu uma barreira, para se proteger. E o livro é bonito porque, com a chegada de uma nova família ao bairro e toda uma sucessão de acontecimentos, vemos que essa barreira vai sendo lentamente derrubada. Além disso, o amor de Ove pela sua mulher, Sonja, é um amor tão bonito e puro, que é impossível não nos rendermos a este velhote resmungão.

A Man Called Ove é uma leitura lindíssima, sendo que a escrita de Fredik, muito fluída e com frases e capítulos pequenos também faz muito por isso. A acrescentar a isto, temos uma descrição muito engraçada e leve de todas as personagens, mas especialmente de Ove. O autor tem a capacidade de nos pôr numa montanha russa de emoções no espaço de poucas páginas, com a descrição da vida de Ove e das situações caricatas que lhe acontecem, intercaladas com capítulos sobre Sonja e sobre o seu passado.

Ove had never been asked how he lived before he met her. But if anyone had asked him, he would have answered that he didn't

Death is a strange thing. People live their whole lives as if it does not exist, and yet it's often one of the great motivations for living. (...) We fear it, yet most of us fear more than anything that it may take someone other than ourselves.

Aconselho este livro a toda a gente, com todas as minhas forças. Ri e chorei muito com ele, de tal forma que até a escrever isto continuo emocionada. Fredik tem uma capacidade incrível de comover o leitor e é impossível não criarmos empatia com este homem chamado Ove. E continuo a refletir sobre a história, porque acredito que haja muitos Oves por aí neste mundo. E acho que quando um livro nos deixa a pensar, isso quer dizer que já estamos apaixonados por ele, certo?

Ps: foi feita uma adaptação para filme deste livro, alguém me sabe dizer se há alguma plataforma de streaming que a tenha? Quero muito ver!

                  

Avaliação: 9/10

Sab | 12.09.20

Pão de Açúcar, de Afonso Reis Cabral

Comprei este livro na Feira do Livro de Lisboa do ano passado e andei meses a adiar a sua leitura. Não sei por que razão, passava a vida a pôr livros à frente deste na fila e, só quando vi que vinha aí a edição de 2020 da Feira do Livro é que ganhei vergonha na cara e peguei nele, finalmente. Também porque estou empenhada em começar a ler mais autores portugueses. Mas ainda bem que o fiz. Afonso Reis Cabral traz-nos um livro fluído e com uma história capaz de nos absorver durante o tempo que dedicamos ao livro.

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Pão de Açúcar traz-nos uma história ficcional sobre as últimas semanas de Gisberta Salce Júnior, transexual brasileira que foi brutalmente assassinada em 2006. Para os mais novos (eu incluída), o Caso Gisberta chocou o país há 14 anos, quando o seu corpo foi encontrado nu da cintura para baixo e brutalmente espancado. Gisberta tinha sido espancada e violada ao longo de vários dias por um grupo de adolescentes, todos com menos de 16 anos e quase todos sob tutela da Oficina de São José, e que ao fim de cerca de um ano, estavam em liberdade.

Aquilo de querer que os outros vissem como ele, no fundo, é o que toda a gente quer: que os outros nos compreendam

Foi neste caso que Afonso Reis Cabral se baseou para escrever o seu romance não ficcional. Conhecemos Rafa (Rafael Tiago), que encontra Gi na cave do Pão de Açúcar, uma mulher presa num corpo de homem, prostituta, toxicodependente, sem-abrigo e a sofrer com SIDA. Depois desta descoberta, Rafa acaba por contar aos amigos e, durante semanas, visitam Gi e levam-lhe comida à hora de almoço. À medida que vamos conhecendo a estranha relação dual entre amizade e repulsa que os três rapazes desenvolvem com Gi, conhecemos também o dia-a-dia nada fácil das crianças que viviam na Oficina de São José, uma vida à margem e cheia de tédio, o que acabava por os levar por maus caminhos.

Admito que, ao início, me pareceu que a história estava meio parada, como se o autor estivesse só a empatar. Até me aperceber que era eu que tinha percebido mal a premissa do livro, porque achei que ia ser mais sobre o caso em si, que sobre o que o precedeu. Ultrapassado este desentendimento, comecei a ficar totalmente agarrada à narrativa, às personagens, à vida que elas levam e à história em si. A escrita de Afonso Reis Cabral é fantástica e fluída, demonstrando que, apesar de ser mais novo que o costume, apresenta uma escrita extremamente madura.

Passáramos a guardar um pedaço de nós um no outro, éramos cofres frágeis que ameaçavam quebrar

Um capítulo a seguir ao outro, vamos conhecendo a forma como os acontecimentos se vão desenrolando até chegar ao desfecho trágico que todos conhecemos. Mas desengane-se quem ache que o facto de sabermos o final o torna menos doloroso, porque não torna. É um livro extremamente pesado, com um final triste, que acaba por também moldar todo o ambiente da história, já que o ambiente em que Gi vive é deplorável.

Resumindo, adorei este livro. Estou muito contente por ter insistido comigo mesma para ler mais autores portugueses e Afonso Reis Cabral, em concreto. Foram dois dias completamente possuída pela história, e mais umas horinhas para a processar, e foi um livro incrível. Não sendo um livro que vai diretamente para a minha lista de favoritos, é uma leitura muito boa e que aconselho completamente!

              

Avaliação: 7,5/10

Seg | 07.09.20

Eleanor Oliphant is Completely Fine, de Gail Honeyman

Há uns tempos que queria ler este livro, já tinha ouvido imensa gente a falar sobre ele e, por isso, estava muito curiosa em relação à sua leitura. Fui um pouco sem expectativas, acho que a história nem me cativava muito, mas tinha curiosidade por saber que muita gente tinha gostado. Sinceramente, estou a escrever esta opinião sem ter percebido ainda se gostei, ou não, da história e do livro em si.

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Tal como o nome indica, Eleanor Oliphant is Completely Fine traz-nos a história de Eleanor, que acha que está tudo bem com ela e com a sua vida. Vou deixar aqui uma pequena nota, porque acredito que o nome do livro em português, A Educação de Eleanor, não está tão bem conseguido, já que perde grande parte da intenção do título original. Passando à frente, Eleanor é um ser humano peculiar, com poucas capacidades de socialização e sem o mínimo filtro social em relação ao que diz. Acha que é uma sortuda por ter um emprego, das 9h às 17h, que lhe permite pagar as contas e sobreviver, mesmo que não tenha amigos ou família e que a sua vida social seja nula. Tudo isto muda quando um dia, juntamente com Raymond, técnico de informática da empresa em que trabalha, salva Sammy, um idoso que perdeu os sentidos na rua. A partir daí, Eleanor começa a conhecer novas pessoas, a ir a eventos sociais e a perceber que a vida não é só trabalho.

These days, loneliness is the new cancer—a shameful, embarrassing thing, brought upon yourself in some obscure way. A fearful, incurable thing, so horrifying that you dare not mention it; other people don’t want to hear the word spoken aloud for fear that they might too be afflicted, or that it might tempt fate into visiting a similar horror upon them.

Acho que a personagem de Eleanor está extremamente bem conseguida, o livro é contado na primeira pessoa e o facto de estarmos a ver tudo como se fossemos a própria Eleanor acrescenta muito à história. Ao início estranhei muito o perfil da personagem, achei-a preconceituosa e instável e todo o seu comportamento mostrava que algo não estava bem. Achei difícil criar empatia com ela, até perceber que tudo tinha uma razão de ser, que Eleanor tem um passado traumático que acaba por moldar toda a sua visão do mundo e os seus próprios comportamentos.

No fundo, é um livro que nos mostra o impacto que pequenos gestos ou acontecimentos podem ter na vida de uma pessoa mais sensível, ou peculiar, à primeira vista. Eleanor desenvolve uma amizade muito bonita com Raymond, que a ajuda a conhecer uma nova vida e a perceber que não devemos viver solitários e negar a ajuda de outras pessoas. Achei muito interessante o facto de a amizade com Raymond ser retratada de uma forma que poderia, eventualmente, evoluir para uma relação amorosa, mas sem que esse seja o foco da narrativa.

Your eyes are always “on,” always looking; when you close them, you’re watching the thin, veined skin of your inner eyelid rather than staring out at the world. It’s not a comforting thought. In fact, if I thought about it for long enough, I’d probably want to pluck out my own eyes, to stop looking, to stop seeing all the time. The things I’ve seen cannot be unseen. The things I’ve done cannot be undone.

Assim, acho que gostei muito de conhecer Eleanor, apegar-me a ela, sorrir com ela, ficar triste com ela e sentir tudo o que ela sentiu. Achei um livro bem construído e admito que a evolução da personagem me emocionou muito. Ao fim da escrita desta opinião percebi, finalmente, que gostei do livro, da história e das personagens que conheci com ela. Não é um livro que me tenha apaixonado, mas continua a ser uma boa leitura. Quem já leu, concorda comigo?

                    

Avaliação: 7/10