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Além do Ponto Final

Além do Ponto Final

Seg | 26.10.20

A Queda dos Gigantes, de Ken Follett

Após alguns tempos a adiar a leitura de Ken Follett e muito assustada com o tamanho dos livros, no início do verão decidi arriscar e começar a ler A Queda dos Gigantes, o primeiro livro da trilogia O Século. Confesso que ia um pouco forçada, sabia que Ken Follett era um autor de nome e que o devia ler para aumentar a minha cultura literária, mas achava que romances históricos não eram, de todo, o meu género de leitura. Agora que penso nisso, ainda bem que me forcei a ler e que viagem incrível.

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É importante perceber a ambição do autor ao escrever esta trilogia: pretende retratar, através de um romance, alguns dos grandes marcos da história mundial do século XX. O primeiro volume da trilogia passa-se entre 1911 e 1925 e conta-nos a história de 5 famílias que vivem nos países das principais mudanças políticas e sociais do século XX – Rússia, Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra e Escócia.

Existe um ditado que diz: se tu deves 100 dólares, estás na palma da mão do banco; mas, se deves um milhão, é o banco que está na palma da tua mão.

O livro começa exatamente na Escócia, com William Williams, de 13 anos, e é-nos descrito o seu primeiro dia de trabalho como mineiro numa mina em Aberowen, onde as condições de trabalho são bastante perigosas. A sua irmã, Ethel Williams, trabalha como governanta para um conde inglês, Fitzherbert e, posteriormente acaba por emigrar para Londres. É nesta cidade que se cruza várias vezes com Maud Fitzherbert, irmã rebelde do Conde Fitz, que a leva a envolver-se na causa sufragista. Ainda neste cenário inglês/escocês, vamos conhecendo Walter Von Ulrich, embaixador alemão na Grã-Bretanha e grande amigo do Conde Fitzherbert.

Conhecemos ainda a família russa, Lev e Grigori Péchkov, órfãos devido às atrocidades cometidas em nome do Czar e que lutam para sobreviver num país cheio de fome e com fracas condições de vida. Lev acaba por emigrar para os Estados Unidos, onde enreda pela vida do crime, enquanto o irmão Grigori se junta ao soviete local e tem um papel crucial na Revolução Russa.

Um bebé é como uma revolução, pensou Grigori: até podemos começar uma, mas é impossível controlar o que será dela.

É assim que ficamos a conhecer as inúmeras personagens da história (há uma cábula com todas as relações de parentesco na parte inicial do livro, para os mais esquecidos) e que começamos a conhecer a trama que nos vai agarrando mais e mais ao livro. Através destas famílias, somos levados a episódios históricos tais como a Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa e a luta pela emancipação feminina, tudo enquanto conhecemos também os laços que as unem. No meio disto tudo, surgem ainda personagens reais como Winston Churchill, David Lloyd George, Lenine e Trotsky, entre outros. O único ponto fraco que aponto ao livro foi o facto de, por vezes, o encontro constante entre personagens principais, mesmo durante a guerra, parecer um pouco forçado.

Resumindo, na minha opinião, é um livro extraordinariamente bem escrito e capaz de nos absorver nas tramas das personagens e nos conflitos históricos mundiais. Percebi que a melhor maneira de (re)aprender História é com este tipo de livros, que nos apresentam personagens que vivem os acontecimentos e que, por isso, nos dão uma imagem mais realista do que aconteceu. Tirando a pequena nota que já referi, adorei o livro e fiquei espantada por me ter prendido tanto. Entretanto já acabei de ler a trilogia (em breve publico as reviews sobre os outros livros) e posso dizer que vale mesmo a pena.

Aí em casa, mais alguém já leu esta trilogia? Que outros livros aconselham do autor?

                 

Avaliação: 8,5/10

Sex | 16.10.20

As Sete Mortes de Evelyn Hardcastle, de Stuart Turton

Uma amiga minha emprestou-me este livro e achei que seria uma boa escolha de leitura mais dark para este mês de outubro. Sim, um policial/thriller para mim é uma leitura assustadora porque eu sou tão medrosa que isto vai ser o mais próximo que alguma vez vou estar de ler um livro de terror. Não é um género que costume ler, mas estou tão feliz por o ter feito com este livro, gostei muito. Aviso já é que, para quem é mais preguiçoso a ler, este livro não é para vocês! Eu ainda me sinto cansada de tanto pensar.

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Em As Sete Mortes de Evelyn Hardcastle, somos levados para Blackheath, a casa de campo da família Hardcastle, onde vai haver uma festa de celebração pelo noivado da filha, Evelyn. Às 11h da noite, no dia da festa, a jovem é assassinada. Acontece que este dia fatídico se vai repetir não uma, mas 7 vezes, até que Aiden Bishop seja capaz de resolver o mistério que rodeia os acontecimentos dessa noite. Para ser mais precisa, o dia vai-se repetir tantas vezes quantas as necessárias para que se descubra o verdadeiro assassino. Todos os dias, Aiden vai acordar no corpo de um convidado diferente e ver o mesmo dia pelos diferentes pontos de vista.

E agora pode escolher, não é verdade? Em vez de se reconstruir às escuras como todos nós e, mais tarde acordar ignorante daquilo em que se tornou, pode agora olhar para o mundo, para as pessoas à sua volta, e escolher as partes do seu carácter que mais quer.

A premissa da história parece confusa e, não vou mentir, é mesmo. O princípio do livro chega a ser frustrante porque parece que, quanto mais lemos, menos sabemos. Apesar disso, queremos sempre continuar a ler porque a escrita e toda a narrativa deixa-nos tão curiosos para saber o que realmente aconteceu naquela noite, que é impossível deixar o livro. Duvidei, várias vezes, da minha inteligência para ler este livro e às vezes sentia que devia ter tomado notas ao longo da leitura para não me perder, porque há muita (mesmo muita) coisa a acontecer. Peguem nas vossas canetas e armem-se em detetives!

Para quem não sabe, este livro é a estreia do autor Stuart Turton. E que estreia! Adorei a escrita e a história e tudo. Lembro-me de estar a ler e pensar no génio que este senhor deve ser para construir uma trama tão complexa como esta. Todas as informações vão sendo dadas na altura perfeita, tudo para nos conduzir a um final incrível e tão imprevisível que cheguei a sentir-me meio enganada pelo escritor.

O doutor é uma alma limpa. Sem remorsos, feridas, sem qualquer das mentiras que contamos a nós mesmos para nos podermos olhar no espelho todas as manhãs. O doutor é... Honesto

Caso ainda não tenham percebido, aconselho muito esta leitura! Apesar de não ser grande leitora deste género, tenho a certeza de que a premissa do livro é completamente diferente do que se vê por aí. Assim sendo, acho que é uma boa leitura para quem gosta de policiais, por ser diferente, e para quem não gosta, porque é muito fácil ficar agarrado. O conselho que dou a quem leia é que não o faça muito rápido, para tentar processar bem todas as informações e, para os mais distraídos como eu, arranjem um caderno para irem apontando as coisas. Depois disso, tenho a certeza que estão prontos para uma leitura incrível!

                  

Avaliação: 8/10

Qua | 07.10.20

Homegoing, de Yaa Gyasi

Venho-vos falar de mais um livro comprado por impulso mas que acabou por se revelar uma surpresa bastante positiva. Uma amiga minha falou-me tão bem deste livro que, na minha primeira compra no Book Depository, acabei por não resistir a comprá-lo. Além disso, Homegoing foi escrito por uma autora do Gana e, como quero tornar as minhas leituras o mais culturais e inclusivas possível, achei que seria uma boa opção.

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Homegoing traz-nos a história de 9 gerações de uma família do Gana, ao longo de mais de 250 anos. Effia e Esi são meias-irmãs, mas nascem em aldeias diferentes, no século XVIII, e nunca chegam a conhecer-se. Enquanto Effia casa com um inglês e fica a viver confortavelmente no Castelo da Costa do Cabo, Esi é capturada pelos britânicos e vai parar às masmorras deste mesmo Castelo, enquanto espera para ser levada para a América como escrava. É neste momento que a história desta família começa a divergir e, ao longo das gerações seguintes de Effia e Esi, vamos conhecendo os altos e baixos que cada um dos lados da família vive.

That is the problem with history. We cannot know that which we were not there to see and hear and experience for ourselves. We must rely upon the words of others

Este é um livro incrivelmente bem escrito sobre escravatura, sobre racismo e sobre a cultura afro-americana, quer na América, quer em África. Além disso, está estruturado de uma maneira espantosa, com cada capítulo a dar-nos a conhecer uma nova personagem da geração seguinte da família, sempre intercalando entre os dois lados da família. Para quem já leu Girl, Woman, Other (podem ler aqui), vai achar esta estrutura muito parecida. Acrescento ainda que o final é lindo e dá tanto sentido ao título (não é spoiler, juro) …

Yaa Gyasi é, sem dúvida alguma, uma escritora em ascensão e é fácil perceber porquê. Há uma mestria na forma como este livro está construído. Desengane-se quem ache que um capítulo sobre cada personagem é pouco, porque a autora tem a capacidade de desenvolver personagens de uma forma bastante completa, com poucas palavras. Além disso, em cada história, vai-nos contando um pouco da História destes dois continentes e dos seus povos, do sofrimento por que a comunidade negra passou, da forma como o mundo foi evoluindo, mas as mentalidades nem por isso. Conhecemos ainda várias relações íntimas entre mães e filhos, pais e filhos, marido e mulher, amigos, entre outros e até estas descrições são capazes de nos passar cultura, pela forma como as personagens se comportam umas com as outras. Temos histórias de superação, de esperança e de uma luta incansável por melhores condições de vida.

The family had not yet resigned themselves to their own blackness, so they crept as close to the white folks as the city would allow. They could go no further, their skin too dark to get an apartment just one street down

"Too dark", he repeated. "Jazzing's only for the light girl's."
"I saw a man dark as midnight walk in with a trombone."
"I said girls, honey. If you were a man, maybe"

Aconselho esta leitura e vou aconselhá-la sempre. Um livro cheio de cultura e uma abertura de olhos para o racismo estrutural que se faz sentir na nossa sociedade. Além disso, é uma história bastante envolvente e que se lê muito bem e dei por mim a pensar várias vezes nas situações que eram descritas no livro. Leiam, leiam, leiam, prometo que vai valer a pena! 🤗

                     

Avaliação: 8,5/10