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Além do Ponto Final

Além do Ponto Final

Seg | 30.11.20

Invisible Women: Exposing Data Bias in a World Designed for Men, de Caroline Criado Perez

Assim que descobri que este livro existia, decidi que o ia ler num futuro próximo. Há já algum tempo que tinha decidido informar-me mais sobre Feminismo, porque considero que é um assunto importante e que, como é óbvio, me influencia, mas sinto que nunca li ou me informei realmente sobre este tema. Não sabia bem por onde começar, mas assim que este livro me apareceu à frente, pensei “Este é o tal!”. Para quem não sabe, estudo matemática e sou muito entusiasta por Big Data e Data Analytics, por isso achei mesmo que este livro vinha juntar o útil ao agradável.

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Em Invisible Women, Caroline Criado Perez pretende mostrar-nos como vivemos num mundo desenhado em grande parte por e para homens. E não vem só divagar sobre esse tema, traz-nos mesmo centenas de estudos que o comprovam. Temos estudos sobre a forma como a segurança dos carros é testada quase sempre apenas com corpos de homens, ou como a maioria dos testes clínicos a medicamentos é feita no sexo masculino. Temos dados que mostram que os telemóveis não estão desenhados para as mãos das mulheres, conhecemos casos de mulheres que demoraram anos a serem diagnosticadas porque as suas dores “eram psicológicas”, percebemos como a grande maioria da nossa vida em sociedade está desenhada sem ter em conta as horas de trabalho não pago que continua a ser feito maioritariamente por pessoas do sexo feminino (como cuidar de crianças ou idosos, ou as tarefas domésticas). Até uma reflexão sobre o porquê de as casas de banho femininas terem sempre mais fila este livro tem!

The gender data gap isn’t just about silence. These silences, these gaps, have consequences. They impact on women’s lives every day.

The fact is that worth is a matter of opinion, and opinion is informed by culture. And if that culture is as male-biased as ours is, it can’t help but be biased against women. By default.

Posso dizer que fiquei chocada com este livro. Sou mulher e, no meu dia a dia, gosto de acreditar que já não há muita desigualdade de género no mundo. Infelizmente, este livro veio mostrar o contrário e nunca me senti tão discriminada ou revoltada como me senti durante esta leitura. Somos o sexo que representa cerca de metade da população, mas que é sistematicamente esquecido. Somos o sexo que tem de mudar os percursos que faz durante o dia ou à noite, para não passarmos em zonas menos iluminadas. Somos o sexo que, ao ser assediado num autocarro, recebe a resposta “também é tão bonita, estava à espera do quê?”. Somos o sexo que é constantemente julgado como “histérico”, quando homens, pela mesma atitude, são vistos como “autoritários”.

É revoltante que isto atualmente continue a acontecer, embora consiga perceber que todos temos um pouco de “enviesamento masculino” intrínseco, pela sociedade em que somos educados. Mas isso tem de mudar e tem de haver mudanças estruturais na forma como os dados são tratados, coisa que não está a acontecer, tal como Caroline nos mostra. Acho que o mais impressionante deste livro é a quantidade de estudo do sexo feminino que está por trás do resultado incrível que Invisible Women é. A autora não se limita a expor os seus argumentos, faz questão de os sustentar com estudos e mais estudos. Outra coisa que gostei muito foi a ironia que Caroline usa na sua escrita.

Women being 47% more likely to be seriously injured in a car crash is one hell of an inequality to be overlooking.

Being the first woman to occupy the most powerful role in the world does take an extraordinary level of ambition. But you could also argue that it’s fairly ambitious for a failed businessman and TV celebrity who has no prior political experience to run for the top political job in the world– and yet ambition is not a dirty word when it comes to Trump. 

[sobre os candidatos às eleições presenciais nos EUA em 2016: Donald Trump e Hillary Clinton]

Recomendo muito este livro. Não lhe vou dar classificação porque, com o tema que é, acho que não precisa. Leiam todos, por favor. Todas as mulheres, mesmo que acreditem que não são feministas ou que já o são o suficiente. E acima de tudo, todos os homens, porque para eles é ainda mais difícil ver que este enviesamento existe (é compreensível, não julgo). Leiam, leiam, leiam.

Qui | 26.11.20

Encontra-me, de André Aciman

Já li Encontra-me, livro editado pela editora Clube do Autor, em abril, logo a seguir a ler o Call Me By Your Name, mas agora recebi o livro físico e achei que era a altura ideal para escrever a review sobre ele. Para quem não sabe, este livro é uma “continuação” de CMBYN e como este se tornou num dos meus livros favoritos de sempre e me fez chorar por dias a fio, tive de ler Encontra-me logo a seguir, para dar um fim à história de Oliver e Elio.

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Encontra-me não nos vai trazer só a história de Oliver e Elio, mas vai-nos expandir um pouco todo o universo de personagens do 1º livro. Está dividido em 4 capítulos e passa-se ao longo de cerca de 10 anos, quando as personagens de CMBYN já são mais velhas. Vamos conhecer a história de Samuel, pai de Elio, que, numa viagem de comboio para ir ter com o filho, conhece uma rapariga maravilhosa, que lhe vai mudar a vida. Entretanto, Elio tornou-se um pianista de sucesso e vive em Paris e Oliver é professor universitário, casado e com filhos, nos EUA.

Após uma análise ao livro, percebemos que Oliver e Elio só têm o encontro que todos esperamos no último capítulo, que, infelizmente, só tem 10 páginas. Claro que todos os fãs de Call Me By Your Name estavam à espera de mais interação entre estas personagens, mas, mesmo assim, não acho que tenha sido um livro mal conseguido.

Some people may be brokenhearted not because they’ve been hurt but because they’ve never found someone who mattered enough to hurt them

A verdade é que a escrita de André Aciman é totalmente irrepreensível, o autor tem uma capacidade incrível de nos levar a Paris, Itália e Nova Iorque através das suas palavras. Além disso, escreve sobre sentimentos tão profundos que é impossível não nos deixarmos levar e tem a habilidade de abordar relações ditas “disfuncionais” de uma forma leve e natural. Numa entrevista a Aciman que li há uns tempos, o autor diz que se foca apenas em construir relações amorosas entre pessoas, independentemente do seu sexo, idade, entre outros. E isso é uma coisa lindíssima que é impossível ignorar quando lemos um livro dele.

Sobre o livro em si, acho que cumpriu bem o seu objetivo de encerrar a história de Elio e Oliver. E não se preocupem que não vou dar spoilers, tudo o que vou dizer é que foi um verdadeiro descanso para alma, porque (e falo por mim) Call Me By Your Name tinha-me deixado aquele sentimento de história que nos destrói por não ter um fim concreto. Este livro fecha o ciclo e deixa-nos preparados para seguir em frente 😂

Everything in my life was merely prologue until now, merely delay, merely pastime, merely waste of time until I came to know you.

Por isso, para concluir aconselho o livro a toda a gente que leu o primeiro. Pode não ser bem o que estavam à espera e ter um final meio “ao lado” do esperado, mas acho que vale a pena, nem que seja para mergulhar na escrita incrível de André Aciman. E quem não leu Call Me By Your Name, do que está à espera? 

Quem já leu, concorda comigo? O que têm a dizer?

                       

Avaliação: 7/10

Qui | 19.11.20

Call Me By Your Favorite Book: André, Catarina e Pedro

Hoje venho falar-vos de uma rubrica que criei no meu Instagram (podem visitar aqui) e que se chama Call Me By Your Favorite Book (em homenagem ao meu adorado Call Me By Your Name). A ideia é muito simples: vou pedir a pessoas que me sejam próximas para me dizerem qual o seu livro favorito e falarem um pouco sobre ele. Porquê fazer isto? Porque acredito que ouvirmos as sugestões de livros de pessoas com géneros literários diferentes dos nossos é das melhores formas de abrirmos os horizontes. Vou publicando cada uma destas pessoas no meu perfil do Instagram e trago aqui para o blog um "apanhado" das últimas 3 pessoas que publiquei lá.

Então, vamos lá!

André

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Daquilo que conheço do André, diria que é um grande amante de clássicos. Sabem aquela pessoa que parece que só lê livros clássicos? André in a nutshell 😂
De vez em quando lê umas coisas diferentes e adorou Normal People porque viu todas as mensagens políticas que o livro tinha (ídolo, eu não vi nada)
Sem surpresas, o livro escolhido pelo André foi "Os Miseráveis", de Victor Hugo. Porquê?
"Os Miseráveis é, na minha opinião, mais do que um mero clássico da literatura europeia. Ao atravessarmos o receio inicial causado pelo tamanho da obra e pela sua riqueza em referências históricas, políticas e literárias, damos por nós cativados por um enredo simultaneamente simples e extremamente complexo. Em Os Miseráveis, Vitor Hugo desenha-nos um fresco do que foram (e, quiçá, continuam a ser) as contradições presentes na organização social que nos rodeia. É uma história de perseverança mas também de frustração, de revolta e de conformismo com um certo destino manifesto - o destino manifesto de que cada ser humano tem, em si, o direito a amar, a ser feliz, a ter segundas oportunidades e, acima de tudo, à mudança.
Por estas e muitas mais razões, Os Miseráveis foram e são, hoje, uma obra incontornável."

 

Catarina

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A Catarina é a minha irmã de 13 anos. Como podem ver pela idade, a Catarina ainda não lê muito mais do que literatura Young Adult. Mesmo assim, conseguimos que ganhasse o gosto pela leitura muito cedo e acaba por ser daquelas pessoas que devoram livros. Leu todos os livros do Harry Potter numa semana e meia e a trilogia dos Hunger Games numa semana. Não sei o que ela faz às palavras mas é mesmo rápida a ler 😂😂
Diria que gosta de YA por agora, mas que no futuro vai ser uma leitora muito seletiva. É muito de moods, abandona os livros com facilidade e se decidir que não gosta do início, nem vale a pena tentar convencê-la a ler porque ela já desistiu oficialmente do livro. Quando lhe perguntei que livro queria trazer para aqui, escolheu The Perks of Being a Wallflower (que é meu por acaso 😅). Porquê?
"Este livro é sobre Charlie, um caloiro no típico liceu americano cuja única individualidade é sua dificuldade em socializar. Para o ajudar a ultrapassar este problema ele conhece Sam e Patrick. Estes ensinam Charlie a soltar-se um pouco e a participar na vida e não apenas observar a dos outros (daí a alcunha Wallflower), fazendo-o através de aventuras inimagináveis na mente do caloiro. Enquanto isto, Charlie desenvolve um interesse por Sam, um amor quase proibido, estando ela no seu último ano de escola. Gostei imenso deste livro, pois fez me sentir como a minha frase favorita do livro, "We were infinite", foi daquelas leituras em que tive que parar de ler e processar tudo. Só tenho que avisar que este livro foi dos que me fez chorar mais."

 

Pedro

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O Pedro é o meu pai (foi muito estranho chamá-lo pelo nome 😂) e uma das pessoas que sempre me incentivou a ler. É um leitor difícil de descrever porque lê de tudo um pouco, desde policiais, a livros mais calmos, a BD, lê mesmo tudo. Diria que não gosta muito de clássicos porque me lembro de me dizer quando era mais nova que tinha a regra de tentar ler 1 por ano 😝
Não me vou alongar mais porque o meu pai tem muito a dizer sobre o teu livro favorito, "A Saga/Fuga de J.B" 
"O livro da minha vida? Não o tenho, são muitos (sim, é um cliché, mas os clichés também definem a vida). Por isso, escolhi “A Saga/Fuga J.B.”, do eterno Gonzalo Torrente Ballester, autor que tive o prazer de entrevistar num momento da minha profissão e que fiz questão de levar os meus livros para que ele os assinasse. Provavelmente, a minha paixão pela leitura começou com ele, concretamente com “Fragmentos de Apocalipse” (outro livro que recomendo…).
 
Refiro logo de início que o livro não é “pacífico”, exige muito do leitor, é uma obra complexa, mas nem por isso “cansativa”. Acredito, sinceramente, que o prazer final vale em pleno a jornada que oferece o autor espanhol, com vasta obra na ficção, mas também no teatro, ensaio e crónicas jornalísticas, por exemplo.
 
Densidade conceptual, imaginação, fantasia, misticismo, lendas, realismo, reflexões, humor (transversal a toda obra de Gonzalo)… Há de tudo em “A Saga/Fuga J.B.”, um mapa literário que parece não ter fim, um mapa que tem como epicentro uma cidade espanhola imaginária, Castroforte del Baralla, desde a sua fundação até a sua modernidade.
 
Torrente Ballester apresenta uma meticulosa construção literária e brinca com os géneros da literatura no decorrer da sua história, que tem o dom de ser universal, já que nos vemos facilmente nas ruas e casas de Castroforte del Baralla assim como reconhecemos facilmente os personagens que dão vida a trama. Tudo começa quando desaparece a relíquia do Corpo Santo, rompendo com a até então tranquilidade da cidade. Um personagem assume papel preponderante, José Bastida (um dos seus heterónimos literários, todos J.B.), que narra esta fascinante história, muitas vezes falando connosco, leitores, em discurso direto.
 
Obra fundamental do denominado realismo fantástico de Espanha (muitos defendem que há um antes e um depois da literatura espanhola com a edição do livro) e considerada no país vizinho uma obra de arte, "A Saga/Fuga de J. B." foi editado em 1972. «Até agora existia um lugar vazio à direita de Cervantes, já não há, acaba de ser ocupado por Gonzalo Torrente Ballester, que escreveu “A Saga/Fuga de J. B.”», escreveu José Saramago sobre este livro simplesmente maravilhoso, apesar da sua exigência. 
 
O meu conselho é apenas um: não tenham medo e não desistam. “A Saga/Fuga de J. B.” é realmente uma experiência literária única.
 
                                                                                                                                                                                                
 
E pronto, estas foram as primeiras 3 sugestões de livros! O que acharam?
Dom | 15.11.20

A Balada dos Pássaros e das Serpentes, de Suzanne Collins

Como leitora adolescente, The Hunger Games foi uma trilogia que me marcou muito e continua a ser das minhas favoritas. Claro que, tendo lido os livros já há alguns anos, romantizo um pouco a opinião que tive deles, mas lembro-me de passar dias completamente viciada. Assim, escusado será dizer que fiquei mais que entusiasmada quando soube que Suzanne Collins ia voltar com uma prequela desta trilogia.

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A Balada dos Pássaros e das Serpentes, vai-nos trazer a história de Coriolanus Snow, mais conhecido por todos por Presidente Snow, nos seus 18 anos. Estamos na manhã da Ceifa dos décimos Jogos da Fome e Snow vai assistir à cerimónia na Academia (escola de elite do Capitólio). Este acontecimento é importante porque, pela primeira vez, os Jogos da Fome vão ter mentores e Snow é um deles. O mentor do tributo que ganhar vai receber um prémio e, por isso, quando lhe é atribuída a tributo feminina do Distrito 12, Lucy Gray, Coriolanus sente-se humilhado e derrotado por achar impossível que a sua rapariga ganhe. É importante referir que, depois da guerra, a família Snow deixou de ter um legado e a sua sobrevivência depende, em parte, do desempenho do jovem nos Jogos da Fome.

Acredito que há uma bondade inata nos seres humanos. Nós sabemos quando atravessamos a fronteira para o mal. E o desafio das nossas vidas é tentar manter-nos do lado certo dessa fronteira

Acontece que, quando começa a conhecer a sua tributo, Coriolanus acaba por se sentir estranhamente ligado a ela. É aqui que a personagem começa a passar por inúmeros dilemas morais quanto ao que fazer para conseguir que ela sobreviva aos Jogos.

Acho que este livro acabou por me desiludir um pouco. Confesso que também ia com expectativas muito altas, por ter adorado a trilogia inicial, mas também era mais nova e gosto de acreditar que os meus gostos evoluíram. No entanto, foi, sem dúvida, uma boa oportunidade para perceber melhor como funcionavam os Jogos no início, como os tributos eram tratados, como surgiram algumas das regras que conhecemos nos primeiros livros, entre outros. Uma coisa que achei muito interessante, foi a abordagem ao conceito de Estado que é feita várias vezes ao longo do livro e a consequente discussão sobre “Caos, Controlo e Contrato”.

O caos. Sem controlo, sem leis, não existe governo. É como estar na arena. O que podemos fazer? Que tipo de acordo será necessário se quisermos viver em pás? Que tipo de contrato social será necessário para garantir a sobrevivência?

E se até os mais inocentes entre nós se transformam em assassinos nos Jogos da Fome, o que é que isso diz sobre nós? Que a nossa natureza essencial é violenta

Por outro lado, o que achei mais negativo foi o facto de não conseguir criar empatia com Snow. Suponho que este livro tenha sido criado, em parte, para nos explicar o porquê de o Presidente Snow ser a pessoa detestável que é nos livros. Acontece que, apesar de concordar que ele não tem uma história muito fácil e que perdeu muito com a guerra, não senti que isto justificasse os seus atos e decisões. No fundo, ao longo de todo o livro, continuei a sentir que ele era uma pessoa mesquinha, fria e cruel. Nem mesmo a sua amizade e amor por Lucy Gray são capazes de mudar isso.

Apesar de tudo, não acho que tenha sido uma má leitura. Para quem gostou d’Os Jogos da Fome, acho que é uma leitura obrigatória porque é interessante saber mais sobre como tudo começou. Para quem não leu, está apto para ler à mesma, já que, sendo uma prequela, é possível perceber tudo. Só aconselho a uma gestão melhor de expectativas do que a que eu fiz 😅

                      

Avaliação: 7,5/10

Seg | 09.11.20

All The Light We Cannot See, de Anthony Doerr

Já tinha este livro guardado para ler há quase dois anos, mas por alguma razão andava sempre a adiar. No verão até cheguei a ler os primeiros dois capítulos, mas acabei por abandonar porque, entretanto, chegou o livro A Man Called Ove (que já falei aqui) e estava mais entusiasmada para esse. A verdade é que com todo o tempo que adiei a leitura e com todas as reviews que tinha lido por aí, estava muito entusiasmada com a leitura. Infelizmente, (⚠️: unpopular opinion) este livro acabou por me desiludir.

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All The Light We Cannot See é narrado essencialmente por dois personagens principais: Werner Pfenning e Marie-Laure. Werner é uma criança órfã alemã, com um fascínio enorme por rádios e muito inteligente. Werner vive com a irmã, Jutta, num abrigo para crianças abandonadas em Zollverein. Por outro lado, Marie-Laure é uma jovem invisual parisiense, apaixonada por livros, que vive com o pai, trabalhador no Museu de História Natural. Numa das suas visitas ao Museu, descobre a lenda à volta de uma pedra preciosa, Mar de Chamas, que diz que quem a possuí pode ter uma vida eterna. Não vou desenvolver mais, mas esta pedra vai ter um papel importante na história.

A história é-nos contada entre o tempo “presente” do livro e o passado, onde ficamos a conhecer melhor o que antecedeu na vida destas duas crianças. Nos primeiros capítulos sabemos que, no dia 7 de agosto de 1944, Werner e Marie-Laure estão em Saint-Malo, uma cidade francesa. A rapariga foi obrigada a fugir para ali com o pai no início da guerra e Werner acabou por ir lá parar depois de ingressar na escola militar da Juventude Hitleriana.

"If your same blood doesn’t run in the arms and legs of the person you’re next to, you can’t trust anything. And even then. It’s not a person you wish to fight, Madame, it’s a system. How do you fight a system?"

“You try.”

Esta história tinha tudo para dar certo, mas a verdade é que não me conquistou totalmente. Quando começamos o livro, e vemos que andamos sempre para trás e para a frente no tempo, a nossa maior expectativa é perceber quando é que estas duas crianças se vão, finalmente, encontrar. Posso dizer que esperei até cerca de 80% do livro e que, quando aconteceu, me soube a pouco e pareceu tudo um pouco acelerado até. Outra coisa que reparei, foi que achei o vocabulário complexo e, talvez por estar a ler em inglês, isso também me tenha tirado um pouco da experiência. Claro que isso não é culpa do autor, só achei que, às vezes, não se adequava.

Não acho que tenha sido uma má leitura, porque é um facto que o livro está bem escrito (tirando o que já referi, que é uma opinião pessoal) e está recheado de momentos bonitos para guardarmos. A forma como o pai de Marie-Laure se esforça para que ela se consiga orientar quando fica invisual ou o amor de Werner pela irmã são coisas que nos aquecem o coração. Além disso, as descrições espaciais e do dia-a-dia da guerra, pareceram-me muito bem feitas.

War, Etienne thinks distantly, is a bazaar where lives are traded like any other commodity: chocolate or bullets or parachute silk.

You know how diamonds—how all crystals—grow, Laurette? By adding microscopic layers, a few thousand atoms every month, each atop the next. Millennia after millennia. That’s how stories accumulate too. All the old stones accumulate stories.

Acho que o maior problema foi mesmo o facto de o livro ter todo este hype à sua volta. Fez com que estivesse à espera de muito, por todos os prémios que tinha ganho, mas, no final, não fui capaz de me render ou identificar com a história.

Quem já leu, concorda? Ou são daqueles que adoraram a história?

                     

Avaliação: 6/10