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Além do Ponto Final

Além do Ponto Final

Qui | 28.01.21

A Quinta dos Animais, de George Orwell

Já tinha lido 1984, de George Orwell, há cerca de um ano e meio e sabia que queria ler mais do autor, eventualmente. Tinha muita curiosidade em ler A Quinta dos Animais também conhecido em Portugal como O Triunfo dos Porcos, mas andava sempre a adiar e achei que com o final de 2020 (e necessidade de um livro mais pequeno) tinha chegado finalmente a altura certa. E ainda bem que o fiz, porque adorei!

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A Quinta dos Animais é uma fábula sobre os animais de uma quinta que, fartos da forma ingrata como são tratados, decidem, incentivados pelos ideais de igualdade promovidos pelo porco Major, começar uma rebelião e expulsar os humanos da quinta.  A revolução resulta e a Quinta do Infantado passa a chamar-se Quinta dos Animais. São elaborados os 7 Mandamentos do Animalismo, é feita uma reorganização da quinta e todos concordam em trabalhar para o bem comum e para um sítio onde todos os animais são iguais.

Os porcos, por serem considerados os animais mais inteligentes na quinta, ficam encarregues de coordenar todas as atividades necessárias para a sobrevivência. Quando ascendem ao poder têm boas intenções, mas, com o tempo, a sua ganância começa a sobrepor-se a elas. A partir daí começam a alterar os Mandamentos em seu proveito, a mudar a forma como contam acontecimentos passados e a escravizar os restantes animais da Quinta.

A fome e o cansaço, reflectiam, marcavam-lhes a existência; não seria justo e correto que existisse um mundo melhor noutro lugar?

Este livro é absolutamente genial. A forma como Orwell construiu, através dele, uma crítica tão dura à sociedade é impressionante. Ao longo da leitura vamos percebendo que este livro é muito mais que uma fábula, é uma história carregada de crítica social à ganância humana e à forma como esta pode levar à decadência de uma sociedade.

Na verdade, a intenção do livro era criticar o governo de Estaline. É fácil perceber que o chefe dos porcos, Napoleão, representa Estaline, que o resto dos animais representam o proletariado e que o porco Major representa Marx ou Lenine. O livro mostra-nos como os ideais do Comunismo que levaram à revolução na União Soviética foram sendo corrompidos por Estaline, o que acabou por levar à construção de um governo autoritário.

Apenas o velho Benjamin garantia recordar-se de todos os pormenores da sua longa existência e saber que as coisas nunca tinham sido, nem nunca poderiam vir a ser, muito melhores nem muito piores - fome, privações e desapontamentos constituíam, dizia ele, a lei imutável da vida

É difícil explicar muito mais deste livro. É daqueles em que só lendo percebemos todas as dimensões da história. O que posso dizer é que é incrível que este livro seja tão pequeno e ao mesmo tempo carregue uma ideia tão forte e uma crítica tão voraz à forma como os princípios do Comunismo foram abandonados na União Soviética. A genialidade que um autor tem de ter para construir uma metáfora assim é impressionante.

Aconselho muito esta leitura. Se têm medo de ler, por acharem que é muito político, não tenham. Também não é dos meus temas preferidos e mesmo assim adorei este livro porque está construído de uma forma que pode mesmo ser uma fábula para crianças. Claro que há uma dimensão mais profunda, mas o livro é pequeno e lê-se de uma assentada. E é incrível, prometo!

                  

Avaliação: 9/10

Seg | 25.01.21

Call Me By Your Favorite Book: Guida, Filipa e Joana

E estamos de volta com a rubrica Call Me By Your Favorite Book, para vos trazer mais 3 recomendações de livros de pessoas que me são próximas! Para quem não sabe do que estou a falar, podem ver aqui o post em que explico melhor em que consiste esta ideia. 

Vamos a isso então? 

Guida

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A Guida é a minha mãe e foi ela, sem dúvida, a pessoa que mais me passou o gosto pela leitura, a mim e à minha irmã, que também já cá apareceu 🤩 Lê um bocadinho de tudo, não é uma leitora nada difícil de satisfazer. Adora Saramago, ou Ken Follett, ou Murakami. É com ela que falo quando preciso de um bom livro que esteja lá por casa para ler, porque tem sempre ótimos conselhos para dar!
O livro que escolheu para esta rubrica, depois de pensar dias a fio, foi "A Insustentável Leveza do Ser". Porquê?

"Um dos meus maiores prazeres é a leitura. Não tenho um livro preferido, tenho vários escritores que admiro e vários livros que me marcaram. Escolher apenas um livro para destacar não foi uma tarefa fácil. Escolhi “A insustentável leveza do ser”, do Milan Kundera, um livro que li há muitos anos e do qual já pouco me lembro da história. Lembro-me que se passa em Praga e tem um contexto político, com várias referências à Primavera de Praga e à invasão da Checoslováquia pela União Soviética. De alguma forma, o regime opressivo influencia as 4 personagens, 2 homens e 2 mulheres (também havia uma cadela, a Karenina) e apesar de ler o livro numa altura em que a União Soviética já estava em queda, em que todos tínhamos opiniões políticas sobre o que se estava a passar, não foi por isso que o livro me marcou. Li-o quando tinha 16 ou 17 anos e marcou-me porque foi o primeiro livro que me fez pensar, começando logo pelo título, o peso, por oposição à leveza. O livro tem várias referências a filósofos, alguns que conhecia e outros que tive de ir à procura e, a partir do triângulo amoroso entre os personagens, o livro obrigou-me a refletir de uma forma que, como jovem adulta, nunca tinha feito. Mas o que mais recordo é o prazer com que algumas frases me surpreendiam, como as queria sublinhar, ou guardar para mais tarde reler, torná-las minhas, por estarem tão bem escritas, tão simples e tão cheias de significado. E esse é um dos maiores prazeres da leitura: ler nas palavras de outros o que podíamos ter sido nós a escrever."

Filipa

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A Filipa é uma das minhas melhores amigas e a pessoa mais à toa que conheço 😂 mesmo assim, consegue ser uma pessoa super culta e que já leu todos os clássicos e mais alguns 🤩
Diria que é uma leitora muito diversificada e que gosta de tudo um pouco. Estava à espera que me trouxesse um clássico, mas trouxe antes Eu Dou-te o Sol, vamos ver porquê:

"Não tenho livros, filmes ou séries preferidas, o que tenho é memórias das emoções e sentimentos que surgem quando estas histórias me são transmitidas através destes três formatos.
A história contada no livro de Jandy Nelson, Eu dou-te o Sol, chegou a mim no Natal e tal como esta quadra festiva, após a leitura do livro senti o coração mais apertadinho e aquecido.
Ao longo de 333 páginas, é demonstrado o poder e o grande papel que a família têm no nosso dia a dia e o quão perdidos e sozinhos nos podemos sentir se ela não estiver presente. A história é narrada pelas 2 personagens principais Jude e Noah, em que alternadamente contam os seus distintos pontos de vista acerca de determinadas situações.
Não sendo isto um spoiler, é importante perceber que estas duas personagens apenas partilham 3 coisas na vida: proveem ambos do mesmo ventre, nasceram os dois no mesmo dia e ambos foram vitimas de um acontecimento que alterou a sua relação para sempre. O enredo foca-se então no seu crescimento (entre os 13 e os 16 anos) tanto a nível psicológico como físico, na sua perspetiva em relação aos acontecimentos e por fim na forma como necessitam um do outro para se sentirem completos.
Concluindo, este livro pode ser confundido com aquele tipo de livros que apenas ficam na estante, mas posso assegurar que ele ficará mais bem arrumadinho na vossa memória e no vosso coração"

Joana

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A Joana é a minha melhor amiga de infância, aquela pessoa que conheço desde sempre. Somos parecidas em muitas coisas e os gostos de leitura são uma delas 🤩

A Joana é mais ou menos como eu, lê policiais, lê romances, lê ficção. Adora os livros e a escrita de Dan Brown 😍 É uma leitora sazonal porque a faculdade não lhe permite mais, mas sei que isso é uma grande frustração para ela, porque aprendemos juntas a adorar ler desde pequenas. Foi a minha companheira na fase dos Jogos da Fome, ou d'A Culpa é das Estrelas e por aí adiante 😅

Não fiquei surpreendida quando escolheu um dos meus livros favoritos, A Verdade Sobre o Caso de Harry Quebert, de Joel Dicker. Porquê?

"Quero apresentar-vos um livro que me inspirou. Não sei se o posso classificar como sendo o meu livro favorito pois tenho muitos livros que me são queridos e torna-se difícil escolher um. Mas A Verdade Sobre o Caso de Harry Quebert, livro escrito por Joel Dicker, é, sem dúvida, um dos livros que mais gostei. Este é narrado por Marcus Goldman, cujo primeiro livro foi um grande sucesso. O jovem escritor precisa de escrever o seu segundo livro, mas está com um bloqueio criativo. Para ultrapassar esta situação, Marcus pede auxílio ao seu amigo e mentor Harry Quebert e acaba por se instalar na casa dele, em Aurora. É nesta pequena cidade bucólica que se depara com um crime sem solução há mais de 30 anos, o desaparecimento de uma jovem de 15 anos. O desenrolar do livro mostra a forma como Marcus conduz a sua própria investigação do caso. Para além de ser um romance policial, este livro é também sobre como escrever um livro, uma vez que cada capítulo traz dicas materializadas através do diálogo entre Marcus e Harry. Este livro está escrito de uma forma muito cativante pois em cada momento descobrem-se factos que mudam completamente o rumo da investigação, é impossível parar de ler. Aconselho vivamente a leitura deste livro, espero que gostem!"

                                                                                                                                                                                                

E foram estas as recomendações destes últimos tempos! Já leram alguma? Gostaram? 

Dom | 17.01.21

O Retorno, de Dulce Maria Cardoso

Já queria ler Dulce Maria Cardoso há muito tempo e, com o ano de 2020 a acabar, achei que era uma boa altura para, finalmente, pegar num livro da autora. Queria ter começado com o livro Eliete, mas O Retorno já andava cá por casa e decidi começar por esse. Confesso que o tema não me dizia tanto, talvez por não ter vivido nessa altura, mas este livro acabou por se revelar um choque de cultura, porque percebi o quão pouco a maioria das pessoas da minha geração sabe sobre os retornados e tudo o que aconteceu naqueles anos depois do 25 de abril.

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A história d’O Retorno começa em 1975, em Angola, quando conhecemos Rui, o narrador da história, os pais e a irmã. Rui e a família preparam-se para deixar para trás toda uma vida e partir para a Metrópole, depois de o período pós-revolução deixar todos os “brancos” que viviam nas ex-colónias portuguesas numa situação precária.

Depois de chegarem a Lisboa, ficamos a conhecer as dificuldades por que milhares de famílias retornadas passaram, ao chegarem a uma cidade desconhecida sem dinheiro, sem comida, sem roupa, sem alojamento, praticamente sem nada. Rui e a sua família vivem, juntamente com várias outras famílias de retornados, durante mais de um ano num hotel de 5 estrelas sobrelotado, onde as condições não são as melhores e onde vivenciam a crescente hostilidade que lhes é dirigida.

Estavam lá retornados de todos os cantos do império, o império estava ali, naquela sala, um império cansado, a precisar de casa e de comida, um império derrotado e humilhado, um império de que ninguém queria saber

Achei este livro, acima de tudo, revoltante. Sinto que não nos é dada cultura suficiente sobre como as coisas aconteceram, como foi difícil para aquelas famílias voltarem a um país onde não eram bem-vindos. É uma realidade dura e é-nos mostrada através da visão de um adolescente, que vê tudo a acontecer à sua volta, todas as discussões de pessoas a favor e contra a revolução e que tenta lidar com a revolta que sente por ter abandonado tudo no sítio a que chamava “casa”, para vir para uma cidade cinzenta e hostil. No geral, senti que gostei do livro, embora tivesse alguma dificuldade a estabelecer empatia com as personagens. Vim a perceber que isso aconteceu por duas razões. A primeira foi sentir que não tenho cultura suficiente para perceber na totalidade tudo o que é descrito e falado na história e a segunda foi o facto de a história me parecer tão dura que tive dificuldades em identificar-me com o que se passava.

Os de cá gostam cada vez menos de nós, andámos lá a explorar os pretos e agora queremos roubar-lhes os empregos, além de estarmos a destruir-lhes os hotéis, a destruir a linda metrópole que nunca mais vai ser a mesma

A escrita da autora é muito própria, faz um uso das vírgulas muito característico e isso acabou por se revelar uma surpresa agradável. Há quem diga que Dulce Maria Cardoso tem uma escrita cansativa, mas eu acho que dá uma fluidez à narrativa interessante e que é uma questão de hábito. Não sei se será bem a melhor comparação, mas fez-me muito lembrar a escrita corrida de Saramago, que eu admito que, a partir do momento em que me habituo, adoro!

Aconselho muito este livro a qualquer pessoa. Acaba por ser uma leitura rápida e dá-nos uma visão que não é muito comum sobre como foi a vida de milhares de retornados depois do 25 de abril. Foi há 46 anos que isto aconteceu em Portugal, mas a verdade é que, infelizmente, a situação dos refugiados é parecida e é uma realidade muito atual no mundo, o que torna esta leitura ainda mais essencial

              

Avaliação: 7,5/10

Qua | 13.01.21

Such a Fun Age, de Kiley Reid

Já andava de olho neste livro há uns tempos, embora nem me lembre bem onde o vi pela primeira vez. Sei que acabou por ganhar o prémio de Best Debut Novel no Goodreads Choice Awards de 2020 e isso acabou por me impulsionar a fazer dele a minha primeira leitura de 2021. Acho que é uma leitura interessante e rápida, mas não gostei do livro ao ponto de sentir que fosse merecedor do prémio.

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A história de Such a Fun Age começa numa noite, quando Alix, uma blogger de sucesso, liga a Emira, a babysitter afro-americana da sua filha Briar. Alix precisa que Emira vá dar uma volta com Briar, porque houve uma emergência em casa e vão ter de chamar a polícia. É por essa razão que as duas se dirigem a um supermercado local, onde Emira acaba por ser alvo de um episódio racista e ser acusada de roubar a criança aos pais.

É este acontecimento que vai guiar o resto da história e vamos vendo a forma exagerada como Alix se tenta redimir deste acontecimento, tentando integrar Emira na família, mesmo que esta não se mostre muito interessada. Há ainda um vídeo do que aconteceu no supermercado, que Emira não quer divulgar, ao contrário do que as pessoas à sua volta acham que é aconselhável.

I don't need you to be mad that it happened. I need you to be mad that it just like... happens.

“Sabem quando leem um livro que fez tudo certo e mesmo assim não o adoram?” Vi esta frase nalgum lado e acho que resume muito bem o que senti com Such a Fun Age. Este é um livro com temas importantes - como racismo, desigualdade e ego – abordados da forma certa. Tem personagens muito bem construídas e uma escrita muito apelativa e que se lê muito bem. Mesmo assim, sinto que faltou qualquer coisa e que talvez o enredo não me tenha agradado tanto como queria.

De qualquer das maneiras, acho que é um livro que cumpre muito bem o seu papel de alertar para uma dimensão do racismo que não é tão referida, que é o facto de as pessoas não pertencentes às minorias fazerem um esforço exagerado e desinformado para combater o racismo. Alix tem o “complexo do branco salvador” e todas as suas ações servem para mostrar que não é racista ou que sabe o que é melhor para Emira melhor que ela própria. Acontece que quer ajudar tanto, que acaba por atrapalhar e pôr a sua babysitter em situações desnecessárias. Fez-me perceber que nós, enquanto pessoas não pertencentes às minorias, não podemos definir o que é o racismo ou como combatê-lo da forma correta. Cabe-nos sim, reconhecer que ele existe e ouvir quem o sofre, de forma a percebermos o que podemos fazer para contrariar o que, infelizmente, continua a acontecer.

Emira realized that Briar probably didn't know how to say good-bye because she never had to do it before. But whether she said good-bye or not, Briar was about to become a person who existed without Emira. She'd go to sleepovers with girls she met at school, and she'd have certain words that she'd always forget how to spell. (...) Briar would say good-bye in yearbook signatures and through heartbroken tears and through emails and over the phone. But she'd never say good-bye to Emira, which made it seem that Emira would never be completely free from her. For the rest of her life and for zero dollars an hour, Emira would always be Briar's sitter.

Acho que foi uma leitura importante e que me abriu os olhos para uma nova dimensão do racismo, e, nesse aspeto, acho que é um livro incrível. No entanto, o enredo em si não me convenceu e isso fez com que não tivesse gostado tanto como queria. De qualquer das maneiras, é uma leitura que aconselho, porque acho mesmo que aborda temas importantes da forma correta.

                     

Avaliação: 7,5/10

Sab | 09.01.21

They Both Die At The End, de Adam Silvera

Comprei este livro para a minha irmã adolescente porque ela me pediu e também porque já tinha visto algumas pessoas a falarem sobre ele. Ela leu-o numa tarde, chorou imenso e disse-me: “Filipa, tens mesmo que ler, mas prepara-te emocionalmente antes”. Ouvi-a e, por isso, acabei por adiar um pouco a leitura, mas no outro dia senti que estava, finalmente, pronta para o ler e ainda bem que o fiz. Tinha as expectativas baixas, por ser um young adult, um estilo com o qual já não me identifico muito, mas é, de facto, um livro incrível.

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Estamos numa sociedade distópica onde existe uma empresa, a Death Cast, capaz de prever o dia da nossa morte. Assim, todos os dias a partir da meia noite, podemos receber uma chamada que nos diz que, algures durante as próximas 24 horas, vamos morrer. É isto que acontece aos dois protagonistas da história, Mateo e Rufus, dois jovens com vidas e personalidades completamente diferentes. Estes dois rapazes acabam por se conhecer através da aplicação Last Friend, criada para que as pessoas que sabem que estão no seu último dia de vida possam encontrar um amigo aleatório que os acompanhe nesse dia, seja ele um Decker - nome dado às pessoas que vão morrer naquele dia -, ou não.

Because I refused to live invincibly on all the days I didn't get an alert, I wasted all those yesterdays and am completely out of tomorrows

A premissa deste livro é incrível e é impossível não nos deixar a pensar. Dei por mim muitas vezes a refletir sobre o que faria se soubesse que estava a viver o meu último dia na terra, ou se gostaria de saber que o estava a viver. É muito interessante vermos a forma como duas pessoas totalmente diferentes lidam com esta situação. Enquanto Mateo viveu toda a sua vida com medo da morte e tem muita dificuldade até para sair de casa, Rufus é um rapaz revoltado com a vida e, assim que descobre que está prestes a perdê-la, começa a aproveitar o dia ao máximo. Acaba por ser muito bonito ver a relação que Mateo e Rufus desenvolvem e a forma como este último incentiva o primeiro a despedir-se da vida de uma forma mais “livre”.

A forma como o livro está escrito acaba por acrescentar muito à história porque cada capítulo diz quem é a pessoa que o está a contar e as horas do dia em que estamos. Não são só Rufus e Mateo a contar a história, também conhecemos algumas pessoas importantes nas suas vidas e outras personagens que, de uma forma ou outra, se vão cruzar com a história destes dois jovens. Além disso, o título não deixa margens para dúvidas quanto ao final da história, mas não é por isso que deixamos de nos sentir ansiosos na leitura, sempre a pensar quando, como e a quem vai acontecer primeiro. É um livro intenso, que nos deixa ansiosos, curiosos, tristes e emocionados.

I may not be able to cure cancer or end world hunger, but small kindness go a long way

I was raised to be honest, but the truth can be complicated. Id doesn't matter if the truth won't make a mess, sometimes the words don't come out until you're alone. Even that's not guaranteed. Sometimes the truth is a secret you're keeping from yourself because living a lie is easier

Caso não tenha dado para perceber, gostei mesmo muito deste livro. Deixou-me a pensar no significado de tudo e de como vivemos a nossa vida. E tem uma história de amizade e amor bonitas, sem recorrer aos clichés das histórias de amor homossexuais que às vezes se encontram por aí. Aconselho só que se preparem emocionalmente porque, apesar de sabermos o final, isso não faz com que custe menos lê-lo 😂 

Este foi uma das boas surpresas de 2020!

                                 

Avaliação: 8,5/10

Ter | 05.01.21

O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald

Já tinha este livro na minha lista há imenso tempo, tal como qualquer livro clássico que ande por aí. A verdade é que os quero ler todos, mas tenho tendência para passar todas as leituras à frente deste tipo de livros. Talvez tenha de definir um objetivo de clássicos a ler em 2021, a ver se não sou tão descuidada. De qualquer das formas, chegou finalmente a oportunidade de ler O Grande Gatsby, através desta edição linda do Clube do Autor. Estou feliz por o ter feito, embora não saiba bem o que achei do livro 😂

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O Grande Gatsby é um livro que retrata a vida excessiva, decadente e consumista da América nos Loucos Anos 20. A história é-nos contada por Nick Carraway, um jovem da província que vive numa casa modesta em Long Island. Ao seu lado vive Jay Gatsby, um homem misterioso, que dá grandes e luxuosas festas todas as semanas e com o qual toda a gente quer ser vista. No entanto, ninguém conhece realmente Jay Gatsby e é através do nosso narrador que vamos começar a conhecer mais a essência desta personagem enigmática.

Gatsby vai-se mostrar uma pessoa altamente marcada por uma paixão antiga, Daisy, e descobrimos que construiu toda a sua vida atual com o objetivo de a recuperar, a ela e ao passado dos dois. Percebemos que todas as festas, todo o luxo e até a localização da sua casa não foram escolhidos ao acaso, mas sim devido ao seu desejo de recuperar Daisy.

Isto não é um mero epigrama: no fim de contas, a vida é muito melhor olhá-la de uma só janela!

Uma coisa que achei muito interessante neste livro, foi o facto de a história nos ser contada por Nick e não pela personagem principal, que é Gatsby. Acho que isso torna a narrativa mais interessante, porque conhecemos Jay aos olhos de outra pessoa. Além disso, acho que é um retrato muito real do que foram aqueles anos seguintes à 1ª Guerra Mundial, tão ditados por excessos, corrupção e decadência. É importante notar que o livro foi publicado pela primeira vez em 1925, e que o próprio autor viveu estes anos. O livro é, aliás, muito conhecido por ser uma crítica ao Sonho Americano. Por último, mas não menos importante, o final do livro é genial!

Um aspeto que achei menos positivo, mas que acredito que seja devido ao meu gosto pessoal, foi o tamanho do livro. Tive dificuldade em estabelecer uma ligação com as personagens porque quando o comecei a fazer, o livro acabou. Também senti que o próprio Jay Gatsby podia ser uma personagem mais explorada.

Sentia-me dentro e fora, simultaneamente encantado e repelido pela inexaurível variedade da vida

Concluo que foi uma leitura que não gostei tanto como estava à espera, mas que também não desgostei. Tem imensos aspetos positivos, sendo o retrato da sociedade da altura o mais interessante, para mim, mas também houve pormenores que não gostei tanto. De qualquer das formas, acho que é um livro que aconselho, por ser um clássico e pela escrita incrível do autor.

                        

Avaliação: 6,5/10