A Quinta dos Animais, de George Orwell
Já tinha lido 1984, de George Orwell, há cerca de um ano e meio e sabia que queria ler mais do autor, eventualmente. Tinha muita curiosidade em ler A Quinta dos Animais também conhecido em Portugal como O Triunfo dos Porcos, mas andava sempre a adiar e achei que com o final de 2020 (e necessidade de um livro mais pequeno) tinha chegado finalmente a altura certa. E ainda bem que o fiz, porque adorei!
A Quinta dos Animais é uma fábula sobre os animais de uma quinta que, fartos da forma ingrata como são tratados, decidem, incentivados pelos ideais de igualdade promovidos pelo porco Major, começar uma rebelião e expulsar os humanos da quinta. A revolução resulta e a Quinta do Infantado passa a chamar-se Quinta dos Animais. São elaborados os 7 Mandamentos do Animalismo, é feita uma reorganização da quinta e todos concordam em trabalhar para o bem comum e para um sítio onde todos os animais são iguais.
Os porcos, por serem considerados os animais mais inteligentes na quinta, ficam encarregues de coordenar todas as atividades necessárias para a sobrevivência. Quando ascendem ao poder têm boas intenções, mas, com o tempo, a sua ganância começa a sobrepor-se a elas. A partir daí começam a alterar os Mandamentos em seu proveito, a mudar a forma como contam acontecimentos passados e a escravizar os restantes animais da Quinta.
A fome e o cansaço, reflectiam, marcavam-lhes a existência; não seria justo e correto que existisse um mundo melhor noutro lugar?
Este livro é absolutamente genial. A forma como Orwell construiu, através dele, uma crítica tão dura à sociedade é impressionante. Ao longo da leitura vamos percebendo que este livro é muito mais que uma fábula, é uma história carregada de crítica social à ganância humana e à forma como esta pode levar à decadência de uma sociedade.
Na verdade, a intenção do livro era criticar o governo de Estaline. É fácil perceber que o chefe dos porcos, Napoleão, representa Estaline, que o resto dos animais representam o proletariado e que o porco Major representa Marx ou Lenine. O livro mostra-nos como os ideais do Comunismo que levaram à revolução na União Soviética foram sendo corrompidos por Estaline, o que acabou por levar à construção de um governo autoritário.
Apenas o velho Benjamin garantia recordar-se de todos os pormenores da sua longa existência e saber que as coisas nunca tinham sido, nem nunca poderiam vir a ser, muito melhores nem muito piores - fome, privações e desapontamentos constituíam, dizia ele, a lei imutável da vida
É difícil explicar muito mais deste livro. É daqueles em que só lendo percebemos todas as dimensões da história. O que posso dizer é que é incrível que este livro seja tão pequeno e ao mesmo tempo carregue uma ideia tão forte e uma crítica tão voraz à forma como os princípios do Comunismo foram abandonados na União Soviética. A genialidade que um autor tem de ter para construir uma metáfora assim é impressionante.
Aconselho muito esta leitura. Se têm medo de ler, por acharem que é muito político, não tenham. Também não é dos meus temas preferidos e mesmo assim adorei este livro porque está construído de uma forma que pode mesmo ser uma fábula para crianças. Claro que há uma dimensão mais profunda, mas o livro é pequeno e lê-se de uma assentada. E é incrível, prometo!
Avaliação: 9/10