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Além do Ponto Final

Além do Ponto Final

Qui | 25.03.21

O Inverno do Mundo, de Ken Follett

Decidi ler O Inverno do Mundo, o segundo volume da trilogia O Século, logo a seguir a acabar A Queda dos Gigantes (sobre o qual já escrevi e deixo o link aqui), já que todos estes livros têm imensas personagens e tinha medo de me esquecer delas. Já não ia tão assustada com o tamanho do livro, porque o primeiro volume da trilogia me tinha ensinado que Ken Follett tem uma capacidade impressionante de nos prender às histórias, ao longo de páginas e mais páginas.

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Este segundo livro, cobre o período histórico entre 1933 e 1949 e traz-nos a vida adulta dos bebés de A Queda dos Gigantes. Ficamos a conhecer Carla Von Ulrich e o irmão, Erik, que vivem na Alemanha. Os pais são liberais, mas Erik dedica-se por completo ao partido nazi, o que traz imensos desentendimentos à família. A vida da família alemã dá uma verdadeira reviravolta com a ascensão do partido nazi ao poder, quando começa a reinar a fome e o desemprego na vida da população alemã.

“This is amazing,” Volodya said. “He’s the President, yet he has to make excuses all the time for what he does!”
“Something like that,” Woody said. “We call it democracy.”

Conhecemos Daisy, que vive nos Estados Unidos e que apenas se preocupa com rapazes e com a sua reputação. Daisy acaba por casar com Boy, filho de Fitz e, posteriormente, por ir viver para Inglaterra. É lá que conhece Lloyd, filho de Ethel, que acaba por participar na Guerra Civil Espanhola, onde percebe a importância de lutar pelos seus ideais. Conhecemos ainda Gus e Chuck Dewar, que vivem nos Estados Unidos e que acabam por seguir caminhos bastante diferentes: Gus torna-se senador, como o pai, e Chuck ingressa na Marinha e parte para o Pacífico. Por fim, conhecemos Vladimir Pechkóv, espião do governo russo, que se casa com a cientista Zoia, que vai estar no centro das novidades científicas russas.

O Inverno do Mundo guia-nos de uma forma espantosa por todos os eventos históricos destes anos, passando pela Guerra Civil Espanhola, pela ascensão do partido nazi, pela Segunda Guerra Mundial, pelo ataque a Pearl Harbor, pela descoberta das bombas atómicas e pela Guerra Fria. Acho que é um livro diferente dos que se baseiam nesta época porque não foca, de forma alguma, o Holocausto ou a perseguição aos judeus e acho que Follett acaba por ganhar muito com isso, conhecemos outras atrocidades cometidas naquela altura, que normalmente não são tão referidas. Dá-nos uma descrição crua de todo o sofrimento da altura, com descrição de cenas capazes de chocar uma pessoa mais sensível (eu incluída). Dá-nos ainda uma visão sobre os problemas sociais que começam a ganhar mais discussão pública nas décadas 30 e 40 do século XX, como a homossexualidade e o racismo.

And here's my advice to you. If you get the chance of the mad kind of love, grab it with both hands, and to hell with the consequences.

Ken Follett não desilude com este segundo volume da trilogia, apesar de ter gostado menos que o primeiro. De qualquer das formas, esta opinião pode ser influenciada pelo facto deste livro ter uma maior componente histórica que o anterior e eu gostar mais da parte “dramática” da história. Não obstante, continua a ser uma maneira incrível de aprender sobre todo este período e dei por mim a descobrir imensos pormenores que não conhecia. Aconselho toda a gente a ler Ken Follett, caso queiram uma lição de História, enquanto leem um bom livro, mas sei que há imensa gente que não gosta assim tanto dele. Digam-me o vosso parecer!

                    

Avaliação: 8/10

Seg | 15.03.21

Maus, de Art Spiegelman

Há muito tempo que queria ler uma Novela Gráfica e não podia estar mais contente com a minha escolha! Já tinha comprado Maus há uns meses e admito que comprei um pouco por impulso, depois de ver alguém a falar bem dele no Instagram. Também admito que subestimava o valor de novelas gráficas, por nunca ter lido nenhuma, mas depois deste livro, não só nunca mais o vou fazer, como vou procurar ativamente novos títulos deste género para ler.

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Maus vai-nos dar a conhecer a história de Vladek Spielgman, judeu polaco e sobrevivente de Auschwitz, narrada por si mesmo ao seu filho cartoonista, Art Spiegelman. Para quem, como eu, não percebe grande coisa de alemão, “maus” é a palavra alemã para ratos e é através destes animais que os judeus são representados neste livro, sendo os nazis gatos, os polacos não judeus porcos e os americanos cães. Os desenhos de Art vão-nos assim levando pela história do seu pai, não deixando, mesmo assim, de nos mostrar a personalidade de Vladek, tão moldada pelas atrocidades por que passou e outros aspetos da sua vida, tal como o suicídio da mãe.

Posso dizer que este livro me apanhou de surpresa, pela intensidade da imagem que passa. O facto de os desenhos de Art serem completamente ausentes de cor tornaram esta leitura ainda mais pesada, perturbadora e intensa. Já li que este é o estilo próprio do autor, mas acredito que, nesta obra em concreto, funcionou muito a seu favor, por transmitir muito bem a ideia do quão atrozes foram as ações nazis naqueles anos. Além disso, senti que era muito diferente de estar a ler algo sobre este tema porque, para além de este ser um livro de não ficção, que nos traz um relato bastante real, o facto de haver desenhos ajudou muito a visualizar bem o que estava a ser falado.

A vida toma sempre o partido da vida, mas, de alguma maneira, as vítimas são culpabilizadas. Mas não foram as melhores pessoas a sobreviver, nem as melhores a morrer. Era tudo aleatório.

Outra coisa que achei bastante interessante foi a forma como Art representou o seu pai, não apagando os seus defeitos, nem o pintando como um herói. No fundo, acho que o cartoonista tentou perceber as atrocidades por que milhares de judeus passaram naqueles anos, para tentar perceber o seu pai, um velho forreta, mesquinho e mal-humorado. Ao longo do livro vamos percebendo como a relação entre os dois é complicada e como Vladek é uma pessoa que vive, de certa forma, muito condicionada pelo que passou naqueles anos.

Por fim, o antropomorfismo usado para contar a história, que transforma todas as personagens em animais, reflete muito bem o que era o dia-a-dia daqueles dias. Os gatos (nazis) perseguem e matam os roedores (judeus). O facto de serem usados ratos para representar os judeus pode, também, ser uma referência ao termo usado pelos nazis para se referir a este grupo: os vermes da sociedade.

Não estou a falar do teu livro agora, mas olha só quantos livros já foram escritos sobre o Holocausto. Para quê? As pessoas não mudaram... Talvez precisem de um Holocausto novo e maior

Numa altura em que tem havido uma grande discussão à volta da quantidade de livros que são lançados sobre Campos de Concentração, é importante que demos primazia a livros de não ficção, que nos passem o testemunho de alguém que esteve lá. E não podia recomendar mais Maus, um livro cru e real sobre o que foram aqueles anos para um judeu e como é sobreviver-lhes. 

                         

Avaliaçâo: 9/10

Qui | 11.03.21

The Midnight Library, de Matt Haig

Gosto de acreditar que os livros nos escolhem de alguma forma. Há momentos da vida para ler cada livro e acho que é mesmo importante que percebamos que não gostarmos de um livro num determinado momento não quer, necessariamente, dizer que não vamos gostar dele no futuro. Mas não é desses casos que vou falar aqui hoje, porque tenho a certeza de que o Universo arranjou maneira de me trazer The Midnight Library na altura certa. Na minha saga de ler os livros vencedores do Goodreads Choice Awards 2020, estava muito indecisa entre este e Anxious People, do Fredik Backman e, apesar de ainda querer ler este segundo, este chamou-me de alguma forma estou muito feliz por isso.

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Nora Seed é uma jovem com depressão que decide que não tem mais motivos para continuar a viver e, por isso, decide suicidar-se. Acontece que, em vez de morrer, vai parar à Midnight Library, uma biblioteca infinita, onde o tempo não passa e cada livro representa uma vida alternativa que Nora podia ter tido se tivesse tomado uma decisão diferente num determinado momento da sua vida. Nesta biblioteca, liderada por Mrs. Elm, bibliotecária e amiga de Nora quando era mais nova, a nossa personagem vai visitar várias vidas, com o intuito de tentar desfazer os arrependimentos que tem e encontrar o universo paralelo que a faz mais feliz.

A person was like a city. You couldn’t let a few less desirable parts put you off the whole. There may be bits you don’t like, a few dodgy side streets and suburbs, but the good stuff makes it worthwhile.

Este é um livro extraordinariamente bem conseguido. A premissa é incrível e acho que aborda temas importantes, como a depressão e o suicídio, da forma correta. Felizmente, nunca estive em nenhuma dessas situações, mas acredito que a forma como Nora se sente – que não é útil para ninguém, que só desilude as pessoas que lhe são próximas, que tudo o que faz está mal, … - deve corresponder à forma como muitas pessoas que passam por isso se sentem.

Digo que este livro me escolheu porque acho que chegou na fase certa da minha vida. E digo isto porque tenho pensado muito sobre determinadas situações por que passei recentemente e se podia ter tomado decisões melhores que as evitassem. Este livro mostrou-me que nem sempre os arrependimentos que temos são algo mais do que produto da nossa mente, ou que as vidas que achávamos que iam ser perfeitas para nós nem sempre o são. Todos temos um pouco de Nora em nós, todos criamos fantasias na nossa mente e pensamos que devíamos ter seguido um determinado caminho na vida que nos tinha feito muito felizes, ou que aquela pessoa era perfeita para nós. E é importante que percebamos que não temos forma de saber se iríamos ser mais felizes com determinada decisão ou pessoa e que, por isso, mais vale aproveitarmos as decisões que tomámos e as pessoas que escolhemos ter na nossa vida.

Sometimes regrets aren’t based on fact at all. Sometimes regrets are just . . .’ She searched for the appropriate term and found it. ‘A load of bullshit.’

It was interesting, she mused to herself, how life sometimes simply gave you a whole new perspective by waiting around long enough for you to see it.

Não diria que este vai ser um livro marcante para toda a gente, como foi para mim. Percebo algumas críticas que recebe e também concordo que é um pouco previsível no final. Mas foi um livro que me impressionou pela positiva e que significou muito para mim, pela altura em que o li. Por isso, para todas as pessoas por aí que estão a precisar de ouvir isto: a vossa decisão foi a melhor decisão que podiam tomar no momento. E leiam este livro, se sentirem que vos vai ajudar 😊

                     

Avaliação: 8,5/10

Sab | 06.03.21

O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde

O Retrato de Dorian Gray era aquele clássico que já tinha ouvido falar muito bem imensas vezes, mas que andava a adiar a leitura há meses. Entretanto uma amiga minha leu, gostou e aconselhou-me a ler e foi essa a motivação que precisei para pegar finalmente nele. Não se tornou numa leitura favorita, mas foi uma leitura muito interessante e da qual gostei mais do que estava à espera.

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Neste livro vamos conhecer Dorian Gray, um jovem de uma beleza e juventude extrema que aceita posar para Basil Hallward, um pintor londrino. Basil tem uma adoração por Dorian e acredita que o jovem é a razão da qualidade da sua arte. É numa das tardes em que Dorian posa para o pintor que conhece o seu amigo, Lorde Henry Wottom, aristocrata com uma visão muito própria do mundo, que acredita que as únicas coisas que valem a pena na vida  são a beleza, a juventude e o prazer. Quando confrontado com o futuro inevitável que a velhice lhe reserva, Dorian comenta que faria tudo para poder ficar jovem como o seu retrato para sempre. Não vou desenvolver muito mais, mas posso dizer que Dorian vai ficar, de alguma forma, ligado ao seu retrato.

Se há coisa que este livro tem é uma discussão sobre as diferentes formas de encararmos a vida e sobre como isso influencia as nossas decisões. Lorde Henry é uma personagem que aborda várias vezes a beleza e os seus valores, ou a importância do prazer, e acaba por ser a maior influência para a personalidade que Dorian vai desenvolver ao longo do livro. Por sua vez, Basil é movido pelas emoções e pela bondade, sendo muito ingénuo. Relativamente a Dorian, este vai ser como que a realização de Lorde Henry, no sentido em que o aristocrata “fala, mas não faz nada” e Dorian vai pôr em prática os seus valores e agir de acordo com eles.

As verdadeiras tragédias da vida acontecem muitas vezes de uma forma tão pouco artística que nos magoam pela crueza da sua violência, pela sua absoluta incoerência, por não fazerem qualquer sentido e serem totalmente desprovidas de estilo. (...) Por vezes, no entanto, acontece-nos deparar na vida com uma tragédia com elementos de beleza artística. Se esses elementos de beleza forem reais, a coisa apela ao nosso sentido de efeito dramático

Oscar Wilde tem uma forma muito filosófica de escrever e vai-nos apresentando imensas reflexões ao longo do livro, o que torna a leitura um pouco mais densa. Para dizer a verdade, estes foram momentos que, apesar de perceber que eram essenciais para a história, acabei por não gostar tanto. De qualquer das maneiras, é muito interessante ver a evolução da personagem de Dorian, que passa de ser um jovem encantador para um adulto detestável e que faz tudo pelas aparências. Além disso, acho que é impressionante a quantidade de situações que se passam no livro que seriam consideradas escandalosas para a época em que foi publicado (tanto que Oscar Wilde chegou a ser preso por causa do livro). É uma história carregada de críticas à sociedade inglesa do século XIX, moldada pela futilidade e movida pelos valores errados.

A consciência e a cobardia são, ao fim e ao cabo, a mesma coisa, Basil. A consciência é apenas a fachada. Nada mais

Acho que esta foi uma leitura que me acrescentou muito e que me fez refletir sobre ela, porque há imensas partes do livro que podem ter interpretações mais profundas. Apesar de ser um livro que exige todo um mood para ser lido, aconselho muito a sua leitura. É daqueles que devemos ler pelo menos uma vez na vida!

                       

Avaliação: 7,5/10

Qua | 03.03.21

Beach Read, de Emily Henry

Mais um livro nomeado para o Goodreads Choice Awards 2020 que li, neste caso o 2º classificado na categoria de Romance e que foi uma agradável surpresa. Tinha acabado de ler um livro de não ficção muito denso e do qual não gostei muito e Beach Read foi a leitura leve e amorosa que estava a precisar. Não sou muito leitora destes romances mais cheesy, mas gostei muito da forma como este era sobre uma história de amor e, ao mesmo tempo, abordava outros temas mais pesados.

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January é uma escritora de romances com finais felizes que, depois da morte do pai e de descobrir que este era infiel à mãe, entra num bloqueio criativo. Decide ir passar o verão à casa que o pai tinha com a amante, com o objetivo de a preparar para venda e de terminar o seu livro, ainda não começado, até setembro. É nesta pequena cidade que se reencontra com Augustus Everett, colega de curso e escritor de livros de ficção com finais não tão felizes. Gus é vizinho de January e os dois acabam por criar uma aposta, onde cada um deve escrever um livro do género literário do outro e o primeiro a acabar ganha. É assim que se vão incentivar um ao outro a escrever e vamos vendo como a relação entre os dois vai evoluindo ao longo do verão.

And that was the moment I realized: when the world felt dark and scary, love could whisk you off to go dancing; laughter could take some of the pain away; beauty could punch holes in your fear.

Ler este livro foi um aquecer de coração. Tem uma escrita muito leve e fluída e posso dizer que era mesmo o que estava a precisar. Achei muito curiosa a abordagem que traz sobre o que é escrever um livro e como a forma de diferentes pessoas verem o mundo pode influenciar a escrita e as histórias que cada um cria. A certa altura, há uma personagem que fala da forma como os livros acabam por ser sempre um pouco autobiográficos e isso deixou-me a pensar se será mesmo verdade, se cada autor refletirá sempre um pouco da sua vida na história que cria.

Outra coisa que gostei particularmente deste livro foi a forma como aborda outros temas mais pesados, de uma forma leve, mas não por isso menos real. A questão do luto que January está a fazer pela morte do pai e por ter descoberto que ele não era a pessoa que ela pensava está muito bem representada e mostra como estas situações nos podem deixar com sentimentos ambíguos, entre a perda e a raiva, a saudade e a desilusão. Acho que foi mesmo um tema abordado da forma correta e isso foi uma das razões pelas quais gostei tanto do livro.

I know feeling small gets to some people, he had once told me, but I kind of like it. Takes the pressure off when you’re just one life of six billion at any given moment. And when you’re going through something hard—at the time, Mom was doing chemo—it’s nice to know you’re not even close to the only one.

O único reparo que faria a este livro é, talvez, o facto de a perspetiva de Gus não estar tão presente. Sabemos muito sobre o passado de January e acho que há coisas na vida de Gus que podiam ter sido mais exploradas se, por exemplo, tivessem sido criados alguns capítulos com o seu ponto de vista.

Posso dizer que este livro foi uma agradável surpresa e que, não se tendo tornado um favorito, por não ser dos meus géneros preferidos, foi uma ótima leitura. Aconselho a toda a gente que goste de romances, ou que simplesmente precise de uma leitura mais leve para aquecer o coração 🤗

                    

Avaliação: 8/10