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Além do Ponto Final

Além do Ponto Final

Qua | 23.06.21

Antes que o Café Arrefeça, de Toshikazu Kawaguchi

 Este livro é capaz de ser dos mais falados ultimamente na comunidade livrólica das redes sociais. Já me tinha cruzado com ele várias vezes e achei que maio, mês onde se celebra a herança asiático-americana e das ilhas do Pacífico, seria uma boa oportunidade para o ler, já que Toshikazu é japonês. Foi uma agradável surpresa, porque, apesar da sua aparente leveza, acaba por nos fazer refletir sobre temas bastante interessantes.

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A premissa do livro é muito simples, há um café onde é possível viajar no tempo, caso se cumpram determinadas regras, sendo uma delas ter que se voltar ao presente antes que o café arrefeça. Com base nisso, vamos então descobrir 4 histórias muito distintas: a de uma rapariga, que quer voltar ao passado para falar com o namorado que foi trabalhar para fora; a de uma enfermeira que quer ler uma carta que o marido lhe escreveu antes de ter Alzheimer; a de uma rapariga que quer ver a irmã pela última vez; e a de uma mãe que quer conhecer a filha.

Just remember. Drink the coffee before it goes cold

Acho que o mais interessante deste livro é a forma como aborda as viagens no tempo. Não temos aquele típico formato em que alguém quer visitar o passado para mudar o presente, já que uma das regras do café é que nada é capaz de mudar o presente. Assim, vemos a forma como as viagens que estas 4 mulheres fazem as transformam e as ajudam a seguir com o seu dia-a-dia. O foco do livro, mais do que estar na viagem do tempo em si, está na forma como essa viagem tem a capacidade de mostrar uma nova perspetiva às pessoas que a experienciam.

É um livro muito leve, mas que, ao mesmo tempo, nos faz refletir sobre questões como o luto, relações adiadas, ou como lidar com a demência dos nossos entes queridos. Faz-nos pensar muito. Se tivéssemos oportunidade, visitaríamos o passado, mesmo sabendo que isso não mudaria o presente? O que gostaríamos de viver outra vez? O que deixámos por dizer e em que situações? Pensei muito nestas questões enquanto lia o livro e acho que foi isso que me fez gostar tanto dele.

She wanted to do things without having to worry what others thought. She simply lived for her freedom

Water flows from high places to low places. That is the nature of gravity. Emotions also seem to act according to gravity. When in the presence of someone with whom you have a bond, and to whom you have entrusted your feelings, it is hard to lie and get away with it. The truth just wants to come flowing out. This is especially the case when you are trying to hide your sadness or vulnerability. It is much easier to conceal sadness from a stranger, or from someone you don’t trust.

A única coisa que tenho a apontar são os nomes. Como o livro é japonês, tem nomes japoneses e o que senti foi que, como nenhum deles me dizia nada, demorei a entrar nas personagens porque as baralhava. Claro que isto não é um defeito, mas para quem, como eu, é mais distraído, aconselho a apontarem os nomes no início.

Recomendo muito a leitura deste Antes Que o Café Arrefeça! É um livro muito bom, pela simplicidade da mensagem que passa e porque nos deixa mesmo a pensar. Espero que gostem 🤗

                      

Avaliação: 8,5/10

                      

Conteúdo selecionado para o artigo "11+ livros incríveis para celebrar o Dia Mundial do Livro", publicado no blog da editora educativa Twinkl.

Sex | 11.06.21

Exit West, de Mohsin Hamid

Já tinha visto este livro por aí algures e, quando acabei a minha última leitura, uma pessoa em quem confio recomendou-mo e achei que era o incentivo que precisava para pegar nele. Entretanto descobri que está traduzido para português, com o nome Passagem para o Ocidente, por isso pessoas que não leiam em inglês também o podem ler. Apesar de não ter sido um livro que me tenha arrebatado, acho que é uma leitura importantíssima hoje em dia, porque traz uma reflexão muito interessante sobre os refugiados.

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Exit West vai-nos trazer a história de Saeed e Nadia, que vivem numa cidade para a qual nunca vamos chegar a saber o nome, mas que se encontra numa guerra civil. Os dois jovens conhecem-se numa aula e, apesar de não ser um amor à primeira vista, acabam por ter uma relação. À medida que a sua relação se vai desenvolvendo, a situação na cidade onde vivem vai-se agravando cada vez mais e surgem rumores sobre umas portas que são capazes de transportar pessoas para outros países. Não quero estar a desenvolver muito mais sobre a história porque é daquelas em que é difícil perceber a linha que separa uma sinopse de spoilers, mas espero que tenha chegado para vos convencer.

Rumors had begun to circulate of doors that could take you elsewhere, often to places far away, well removed from this death trap of a country. Some people claimed to know people who knew people who had been through such doors.

Uma das coisas que achei muito interessante neste livro foi o quanto as duas personagens eram o oposto uma da outra e como, mesmo assim, arranjavam forma de conviverem a dois. Saeed vive com os pais, reza várias vezes ao dia e tem um grande amor à sua cidade natal. Por outro lado, Nadia cortou relações com os pais por ter decidido ir viver sozinha sem se casar, é ateia e está ansiosa por deixar a sua cidade. Mesmo assim, o casal vai-se adaptando às vivências um do outro e vão construindo uma relação sólida à volta disso.

Sinto que a minha experiência com este livro foi muito influenciada pelo tempo que demorei a lê-lo, porque quando passo muito tempo numa leitura, especialmente quando é pequena, sinto que não a aprecio tanto. Mesmo assim, acho que o mais importante a retirar desta história é toda a perspetiva que traz sobre os refugiados. Num mundo que se vai tornando cada vez mais global devido às vagas de migrantes que estes novos portais permitem, vemos como as cidades que os recebem têm dificuldade em adaptar-se a estas mudanças. E o mais diferenciador da história é que o autor não se foca em acusar estes países pelas suas reações, mas sim em mostrar, de certa forma, o seu lado e como se pode ultrapassar este receio inicial, repensando ainda as medidas que podem ser tomadas para ajudar estas pessoas que fugiram de condições de vida não dignas.

and when she went out it seemed to her that she too had migrated, that everyone migrates, even if we stay in the same houses our whole lives, because we can’t help it. We are all migrants through time.

Apesar de não ter adorado o livro, consigo perceber que é uma leitura essencial, especialmente agora, quando o tema dos refugiados e deslocados de Pemba, por exemplo, é tão atual. Sei que Exit West é um livro extremamente subvalorizado e recomendo muito a sua leitura!

             

Avaliação: 7/10