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Além do Ponto Final

Além do Ponto Final

Qui | 19.11.20

Call Me By Your Favorite Book: André, Catarina e Pedro

Hoje venho falar-vos de uma rubrica que criei no meu Instagram (podem visitar aqui) e que se chama Call Me By Your Favorite Book (em homenagem ao meu adorado Call Me By Your Name). A ideia é muito simples: vou pedir a pessoas que me sejam próximas para me dizerem qual o seu livro favorito e falarem um pouco sobre ele. Porquê fazer isto? Porque acredito que ouvirmos as sugestões de livros de pessoas com géneros literários diferentes dos nossos é das melhores formas de abrirmos os horizontes. Vou publicando cada uma destas pessoas no meu perfil do Instagram e trago aqui para o blog um "apanhado" das últimas 3 pessoas que publiquei lá.

Então, vamos lá!

André

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Daquilo que conheço do André, diria que é um grande amante de clássicos. Sabem aquela pessoa que parece que só lê livros clássicos? André in a nutshell 😂
De vez em quando lê umas coisas diferentes e adorou Normal People porque viu todas as mensagens políticas que o livro tinha (ídolo, eu não vi nada)
Sem surpresas, o livro escolhido pelo André foi "Os Miseráveis", de Victor Hugo. Porquê?
"Os Miseráveis é, na minha opinião, mais do que um mero clássico da literatura europeia. Ao atravessarmos o receio inicial causado pelo tamanho da obra e pela sua riqueza em referências históricas, políticas e literárias, damos por nós cativados por um enredo simultaneamente simples e extremamente complexo. Em Os Miseráveis, Vitor Hugo desenha-nos um fresco do que foram (e, quiçá, continuam a ser) as contradições presentes na organização social que nos rodeia. É uma história de perseverança mas também de frustração, de revolta e de conformismo com um certo destino manifesto - o destino manifesto de que cada ser humano tem, em si, o direito a amar, a ser feliz, a ter segundas oportunidades e, acima de tudo, à mudança.
Por estas e muitas mais razões, Os Miseráveis foram e são, hoje, uma obra incontornável."

 

Catarina

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A Catarina é a minha irmã de 13 anos. Como podem ver pela idade, a Catarina ainda não lê muito mais do que literatura Young Adult. Mesmo assim, conseguimos que ganhasse o gosto pela leitura muito cedo e acaba por ser daquelas pessoas que devoram livros. Leu todos os livros do Harry Potter numa semana e meia e a trilogia dos Hunger Games numa semana. Não sei o que ela faz às palavras mas é mesmo rápida a ler 😂😂
Diria que gosta de YA por agora, mas que no futuro vai ser uma leitora muito seletiva. É muito de moods, abandona os livros com facilidade e se decidir que não gosta do início, nem vale a pena tentar convencê-la a ler porque ela já desistiu oficialmente do livro. Quando lhe perguntei que livro queria trazer para aqui, escolheu The Perks of Being a Wallflower (que é meu por acaso 😅). Porquê?
"Este livro é sobre Charlie, um caloiro no típico liceu americano cuja única individualidade é sua dificuldade em socializar. Para o ajudar a ultrapassar este problema ele conhece Sam e Patrick. Estes ensinam Charlie a soltar-se um pouco e a participar na vida e não apenas observar a dos outros (daí a alcunha Wallflower), fazendo-o através de aventuras inimagináveis na mente do caloiro. Enquanto isto, Charlie desenvolve um interesse por Sam, um amor quase proibido, estando ela no seu último ano de escola. Gostei imenso deste livro, pois fez me sentir como a minha frase favorita do livro, "We were infinite", foi daquelas leituras em que tive que parar de ler e processar tudo. Só tenho que avisar que este livro foi dos que me fez chorar mais."

 

Pedro

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O Pedro é o meu pai (foi muito estranho chamá-lo pelo nome 😂) e uma das pessoas que sempre me incentivou a ler. É um leitor difícil de descrever porque lê de tudo um pouco, desde policiais, a livros mais calmos, a BD, lê mesmo tudo. Diria que não gosta muito de clássicos porque me lembro de me dizer quando era mais nova que tinha a regra de tentar ler 1 por ano 😝
Não me vou alongar mais porque o meu pai tem muito a dizer sobre o teu livro favorito, "A Saga/Fuga de J.B" 
"O livro da minha vida? Não o tenho, são muitos (sim, é um cliché, mas os clichés também definem a vida). Por isso, escolhi “A Saga/Fuga J.B.”, do eterno Gonzalo Torrente Ballester, autor que tive o prazer de entrevistar num momento da minha profissão e que fiz questão de levar os meus livros para que ele os assinasse. Provavelmente, a minha paixão pela leitura começou com ele, concretamente com “Fragmentos de Apocalipse” (outro livro que recomendo…).
 
Refiro logo de início que o livro não é “pacífico”, exige muito do leitor, é uma obra complexa, mas nem por isso “cansativa”. Acredito, sinceramente, que o prazer final vale em pleno a jornada que oferece o autor espanhol, com vasta obra na ficção, mas também no teatro, ensaio e crónicas jornalísticas, por exemplo.
 
Densidade conceptual, imaginação, fantasia, misticismo, lendas, realismo, reflexões, humor (transversal a toda obra de Gonzalo)… Há de tudo em “A Saga/Fuga J.B.”, um mapa literário que parece não ter fim, um mapa que tem como epicentro uma cidade espanhola imaginária, Castroforte del Baralla, desde a sua fundação até a sua modernidade.
 
Torrente Ballester apresenta uma meticulosa construção literária e brinca com os géneros da literatura no decorrer da sua história, que tem o dom de ser universal, já que nos vemos facilmente nas ruas e casas de Castroforte del Baralla assim como reconhecemos facilmente os personagens que dão vida a trama. Tudo começa quando desaparece a relíquia do Corpo Santo, rompendo com a até então tranquilidade da cidade. Um personagem assume papel preponderante, José Bastida (um dos seus heterónimos literários, todos J.B.), que narra esta fascinante história, muitas vezes falando connosco, leitores, em discurso direto.
 
Obra fundamental do denominado realismo fantástico de Espanha (muitos defendem que há um antes e um depois da literatura espanhola com a edição do livro) e considerada no país vizinho uma obra de arte, "A Saga/Fuga de J. B." foi editado em 1972. «Até agora existia um lugar vazio à direita de Cervantes, já não há, acaba de ser ocupado por Gonzalo Torrente Ballester, que escreveu “A Saga/Fuga de J. B.”», escreveu José Saramago sobre este livro simplesmente maravilhoso, apesar da sua exigência. 
 
O meu conselho é apenas um: não tenham medo e não desistam. “A Saga/Fuga de J. B.” é realmente uma experiência literária única.
 
                                                                                                                                                                                                
 
E pronto, estas foram as primeiras 3 sugestões de livros! O que acharam?