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Além do Ponto Final

Além do Ponto Final

Ter | 22.09.20

Ensina-me a Voar Sobre os Telhados, de João Tordo

O primeiro livro comprado na Feira do Livro de Lisboa deste ano que decidi ler foi Ensina-me a Voar Sobre os Telhados, de João Tordo. A razão? Muito simples: foi o livro mais pesado que comprei e queria aproveitar a minha última semana de férias para o ler, para não ter de andar muito carregada quando as aulas começassem 😂

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Este livro desenvolve-se entre o Japão e Portugal e tem um espaço temporal de cerca de 100 anos. Em Portugal, conhecemos o narrador da história, que trabalha no Liceu Camões, tem um filho surdo e é um alcoólico em recuperação. Quando o professor Tavares, que dava aulas de Geografia, se suicida, cria uma reunião semanal, que tem como objetivo ajudar todos os que trabalham no liceu a recuperar do choque. Numa dessas reuniões, aparece Henrique Tsukuda, um japonês misterioso, que vai despertar um fascínio doentio no nosso narrador. Intercalados com os capítulos passados em Portugal, temos outros onde vamos conhecendo várias gerações de uma família japonesa, que, mais à frente na história, acaba por se relacionar com a história passada em Portugal.

Esta passagem constante entre passado e presente, Japão e Portugal, acaba por tornar a leitura um pouco confusa, na minha opinião. Além disso, focando-nos em dois cenários muito distintos, acabamos por nos deparar com inúmeras personagens, o que torna o livro de uma enorme complexidade (que já ouvi dizer que é uma característica deste autor).

Nascer não é, afinal, produto do livre-arbítrio, mas de uma outra liberdade, biológica ou celestial, como lhe queiram chamar, a liberdade mais arrogante de todas porque é promotora de escravidão, obrigando-nos a estar aqui, encurralados. Em suma: não tivemos escolha neste "estar"

A verdade é que não gostei muito do livro. Não digo que seja uma má leitura, talvez não seja, simplesmente, uma leitura para mim. O que senti ao longo da história, foi que continuava a ler sempre à espera que acontecesse alguma coisa, que, de repente, surgisse uma situação mais surpreendente ou mais “mexida”. Tudo para terminar o livro e perceber que essa situação não tinha chegado. A acrescentar a isto, achei a história triste, houve sempre uma melancolia e tristeza presentes em todas as personagens e isso, não sendo necessariamente uma coisa má, acabou por também me deixar desmotivada na leitura. Acho que, no geral, achei a história monótona.

Mais uma vez, não acho que seja um mau livro, acho que é mesmo uma questão de gosto pessoal. Senti que não havia propriamente um fio condutor da narrativa e isso, para mim, é meio caminho andado para me perder na leitura e não me sentir ligada à história. No entanto, devo dizer que adorei a escrita do autor, achei muito fluída e cativante, apesar do ambiente triste à volta do livro, já para não falar que está recheada de passagens lindíssimas.

O dilema não é não sabermos, é não saber que sabemos, e portanto esse conhecimento tem de ser arrancado de dentro de nós com um saca rolhas existencial

O medo impede-nos de acreditar naquilo que o medo nos diz que é impossível

No geral, acho que foi uma leitura rica em cultura, mas que não me cativou completamente. Vou voltar aos livros do autor, sem dúvida, e tentar perceber se tive apenas um começo menos bom, ou se é um estilo de escrita com o qual não me identifico tanto. Quem já leu este autor, o que tem a dizer? Qual o livro que recomendam?

                           

Avaliação: 6,5/10