Homegoing, de Yaa Gyasi
Venho-vos falar de mais um livro comprado por impulso mas que acabou por se revelar uma surpresa bastante positiva. Uma amiga minha falou-me tão bem deste livro que, na minha primeira compra no Book Depository, acabei por não resistir a comprá-lo. Além disso, Homegoing foi escrito por uma autora do Gana e, como quero tornar as minhas leituras o mais culturais e inclusivas possível, achei que seria uma boa opção.
Homegoing traz-nos a história de 9 gerações de uma família do Gana, ao longo de mais de 250 anos. Effia e Esi são meias-irmãs, mas nascem em aldeias diferentes, no século XVIII, e nunca chegam a conhecer-se. Enquanto Effia casa com um inglês e fica a viver confortavelmente no Castelo da Costa do Cabo, Esi é capturada pelos britânicos e vai parar às masmorras deste mesmo Castelo, enquanto espera para ser levada para a América como escrava. É neste momento que a história desta família começa a divergir e, ao longo das gerações seguintes de Effia e Esi, vamos conhecendo os altos e baixos que cada um dos lados da família vive.
That is the problem with history. We cannot know that which we were not there to see and hear and experience for ourselves. We must rely upon the words of others
Este é um livro incrivelmente bem escrito sobre escravatura, sobre racismo e sobre a cultura afro-americana, quer na América, quer em África. Além disso, está estruturado de uma maneira espantosa, com cada capítulo a dar-nos a conhecer uma nova personagem da geração seguinte da família, sempre intercalando entre os dois lados da família. Para quem já leu Girl, Woman, Other (podem ler aqui), vai achar esta estrutura muito parecida. Acrescento ainda que o final é lindo e dá tanto sentido ao título (não é spoiler, juro) …
Yaa Gyasi é, sem dúvida alguma, uma escritora em ascensão e é fácil perceber porquê. Há uma mestria na forma como este livro está construído. Desengane-se quem ache que um capítulo sobre cada personagem é pouco, porque a autora tem a capacidade de desenvolver personagens de uma forma bastante completa, com poucas palavras. Além disso, em cada história, vai-nos contando um pouco da História destes dois continentes e dos seus povos, do sofrimento por que a comunidade negra passou, da forma como o mundo foi evoluindo, mas as mentalidades nem por isso. Conhecemos ainda várias relações íntimas entre mães e filhos, pais e filhos, marido e mulher, amigos, entre outros e até estas descrições são capazes de nos passar cultura, pela forma como as personagens se comportam umas com as outras. Temos histórias de superação, de esperança e de uma luta incansável por melhores condições de vida.
The family had not yet resigned themselves to their own blackness, so they crept as close to the white folks as the city would allow. They could go no further, their skin too dark to get an apartment just one street down
"Too dark", he repeated. "Jazzing's only for the light girl's."
"I saw a man dark as midnight walk in with a trombone."
"I said girls, honey. If you were a man, maybe"
Aconselho esta leitura e vou aconselhá-la sempre. Um livro cheio de cultura e uma abertura de olhos para o racismo estrutural que se faz sentir na nossa sociedade. Além disso, é uma história bastante envolvente e que se lê muito bem e dei por mim a pensar várias vezes nas situações que eram descritas no livro. Leiam, leiam, leiam, prometo que vai valer a pena! 🤗
Avaliação: 8,5/10