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Além do Ponto Final

Além do Ponto Final

Seg | 15.03.21

Maus, de Art Spiegelman

Há muito tempo que queria ler uma Novela Gráfica e não podia estar mais contente com a minha escolha! Já tinha comprado Maus há uns meses e admito que comprei um pouco por impulso, depois de ver alguém a falar bem dele no Instagram. Também admito que subestimava o valor de novelas gráficas, por nunca ter lido nenhuma, mas depois deste livro, não só nunca mais o vou fazer, como vou procurar ativamente novos títulos deste género para ler.

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Maus vai-nos dar a conhecer a história de Vladek Spielgman, judeu polaco e sobrevivente de Auschwitz, narrada por si mesmo ao seu filho cartoonista, Art Spiegelman. Para quem, como eu, não percebe grande coisa de alemão, “maus” é a palavra alemã para ratos e é através destes animais que os judeus são representados neste livro, sendo os nazis gatos, os polacos não judeus porcos e os americanos cães. Os desenhos de Art vão-nos assim levando pela história do seu pai, não deixando, mesmo assim, de nos mostrar a personalidade de Vladek, tão moldada pelas atrocidades por que passou e outros aspetos da sua vida, tal como o suicídio da mãe.

Posso dizer que este livro me apanhou de surpresa, pela intensidade da imagem que passa. O facto de os desenhos de Art serem completamente ausentes de cor tornaram esta leitura ainda mais pesada, perturbadora e intensa. Já li que este é o estilo próprio do autor, mas acredito que, nesta obra em concreto, funcionou muito a seu favor, por transmitir muito bem a ideia do quão atrozes foram as ações nazis naqueles anos. Além disso, senti que era muito diferente de estar a ler algo sobre este tema porque, para além de este ser um livro de não ficção, que nos traz um relato bastante real, o facto de haver desenhos ajudou muito a visualizar bem o que estava a ser falado.

A vida toma sempre o partido da vida, mas, de alguma maneira, as vítimas são culpabilizadas. Mas não foram as melhores pessoas a sobreviver, nem as melhores a morrer. Era tudo aleatório.

Outra coisa que achei bastante interessante foi a forma como Art representou o seu pai, não apagando os seus defeitos, nem o pintando como um herói. No fundo, acho que o cartoonista tentou perceber as atrocidades por que milhares de judeus passaram naqueles anos, para tentar perceber o seu pai, um velho forreta, mesquinho e mal-humorado. Ao longo do livro vamos percebendo como a relação entre os dois é complicada e como Vladek é uma pessoa que vive, de certa forma, muito condicionada pelo que passou naqueles anos.

Por fim, o antropomorfismo usado para contar a história, que transforma todas as personagens em animais, reflete muito bem o que era o dia-a-dia daqueles dias. Os gatos (nazis) perseguem e matam os roedores (judeus). O facto de serem usados ratos para representar os judeus pode, também, ser uma referência ao termo usado pelos nazis para se referir a este grupo: os vermes da sociedade.

Não estou a falar do teu livro agora, mas olha só quantos livros já foram escritos sobre o Holocausto. Para quê? As pessoas não mudaram... Talvez precisem de um Holocausto novo e maior

Numa altura em que tem havido uma grande discussão à volta da quantidade de livros que são lançados sobre Campos de Concentração, é importante que demos primazia a livros de não ficção, que nos passem o testemunho de alguém que esteve lá. E não podia recomendar mais Maus, um livro cru e real sobre o que foram aqueles anos para um judeu e como é sobreviver-lhes. 

                         

Avaliaçâo: 9/10

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